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Filosofia_6ºTeste_2016
Existem duas formas distintas de conhecimento: o conhecimento vulgar (ou senso comum) e o conhecimento científico. Conhecimento vulgar
Associado a um primeiro nível do conhecimento – estando ligado à apreensão imediata, muitas vezes, sensorial, da realidade.
Faz parte das ferramentas fundamentais do saber viver, pois é a partir dele que orientamos a nossa vida.
Poucas preocupações com o rigor.
A fonte do conhecimento vulgar é a experiência concreta de cada ser humano. Este conhecimento constata regularidades empíricas no funcionamento do mundo e com elas constrói soluções práticas, que permitem responder aos problemas do diaa-dia, sem quaisquer preocupações com preocupações
teóricas
baseadas
em
métodos específicos.
É caracterizado como um saber superficial e espontâneo, pois resulta da necessidade de resolver problemas do quotidiano;
É empírico, concreto e subjetivo, pois surge da experiencia de cada ser humano situado num tempo e num espaço concretos.
É assistemático, acrítico e dogmático (como verdade incontestável), pois não se fundamenta em nenhum estudo prévio, mas na acumulação de observações cujos resultados se repetem.
É expresso numa linguagem vulgar (corrente), pelo que muitas vezes se originam ambiguidades.
Conhecimento científico Na ciência, pretende-se descrever e explicar fenómenos. Partindo de hipóteses explicativas e estabelecendo relações de causalidade entre os fenómenos observados, o cientista pretende prever a ocorrência de novos fenómenos. Assim, ao contrário do senso comum, o conhecimento científico é caracterizado por ser:
Sistemático, metódico e objetivo.
Garante um saber mais exato e rigoroso.
Procura respostas objetivas e universais, leis (explicações da realidade que resultam da experimentação, do teste e de meios formais de prova.
Portador de uma linguagem própria, técnica e exata, que evita ambiguidades interpretativas, mas enunciado menos acessíveis.
É um conhecimento experimental (inclui métodos formais de prova), crítico e revisível, pois nada é assumido como absoluto ou definitivamente fechado, por mais seguro ou justificado, que a partida, possa parecer.
Filosofia_6ºTeste_2016 Aquilo que hoje entendemos ser verdade, amanhã pode ser um enorme erro científico – daí a revisibilidade do conhecimento científico.
Esta é fruto da natureza crítica e antidogmática, mais uma das oposições em relação ao senso comum.
Qual a relação entre estes dois? Ambos são distintos, e em muitos aspetos: opostos – rutura. Mas, porém, existe uma certa continuidade e complementaridade entre estas duas formas de conhecimento: Hoje, dada a importância prática de que a investigação científica se reveste, há a noção de que é preciso, na medida do possível, esbater as fronteiras entre senso comum e ciência, através da construção de uma opinião esclarecida. Entende-se que o conhecimento científico é demasiado importante para ser deixado ao arbítrio dos cientistas e mesmo daqueles que nos governam, e que o senso comum dos cidadãos deve ter alguma capacidade de intervenção nas decisões que a todos dizem respeito e que a todos vão afetar. É preciso que as pessoas compreendam o alcance, os limites e o interesse da investigação científica e tenham alguma capacidade de intervenção na eventual tomada de decisão acerca de assuntos que a todos interessam.
Ciência e construção. Validade e verificabilidade de hipóteses Métodos científicos Para que as diversas ciências possam almejar um conhecimento objetivo, explicativo e preditivo, precisam de trilhar um caminho composto por diversas etapas e regras – caráter metódico. É este caminho, o método, que garante a fiabilidade e a universidade dos resultados da ciência, pois resulta de um trabalho organizado, rigoroso e eficaz. Perguntar pelas metodologias científicas = Como se estabelecem as verdades [ou leis] em ciência?
Há vários métodos científicos.
Quando se analisa a prática dos cientistas, confrontamo-nos com diversos métodos e perspetivas, que variam de acordo com o objeto de estudo e com os objetivos específicos visados.
Método indutivo
A 1ª sistematização de um método para fazer ciência surgiu na modernidade, com o filósofo Francisco Bacon.
Segundo Bacon, o conhecimento científico é adquirido e confirmado por um processo de indução.
O conhecimento humano tem por base uma metodologia sistemática de indagação empírica assente na observação, experimentação e indução.
A indução está muitas vezes ligadas ao princípio de que casos futuros serão semelhantes aos casos passados. Por conseguinte, o grau de confirmação de uma hipótese dependeria apenas do número de casos favoráveis observados, não passando o problema de uma questão de simples enumeração exaustiva das manifestações de um fenómeno.
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Bacon afirmou, por outro lado, que o seu método indutivo só poderia dar os frutos esperados se os seus praticantes fossem capazes de eliminar quatro classes de «ídolos intelectuais». 1.
As ilusões da perceção (ídolos da tribo);
2.
As inclinações pessoais (ídolos da caverna);
3.
As ambiguidades linguísticas (ídolos do mercado);
4.
Os sistemas filosóficos dogmáticos (ídolos do teatro).
Método baconiano ou indutivo:
Método hipotético-dedutivo Ao contrário de Bacon, Galileu Galilei combinou a observação empírica e a dedução matemática, tendo sido um dos percursores e defensores do método hipotético-dedutivo.
Também estudado por Karl Popper.
Galileu ficou universalmente conhecido pela defesa do heliocentrismo e pelas inovações técnicas que introduziu.
É-lhe também atribuída a invenção de um método científico rigoroso e fiável, onde a experiencia tem um lugar central.
Etapas do método hipotético-dedutivo Tal como Bacon, Galileu adota uma perspetiva verificacionista, isto é: o seu papel enquanto cientista é confrontar as hipóteses com os factos e verificar a sua verdade. Quando no teste experimental, a hipótese se confirma, o enunciado transforma-se em lei universal. Caso o resultado seja negativo, a hipótese terá de ser abandonada ou reformulada. Para este, os sentidos são insuficientes para observação científica de fenómenos, pelo que criou instrumentos e modelos que visaram tornar mais rigorosa e objetiva a tarefa do cientista. Método experimental (ou método cientifico simples)
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Este começa com as observações, a partir das quais se constroem hipóteses ou teorias, que são explicações imaginativas para os fenómenos observados.
A partir delas deduzem-se as suas consequências que, se confirmadas pela experimentação, produzem uma generalização ou um enunciado universal que permitirá fazer previsões precisas – a lei. Se a experimentação não verificar a hipótese, esta e abandonada e tem de se contruir uma outra que passará pelo mesmo processo.
Ver esquema
pág.209 Embora não dispense a dedução, o método experimental, insere-se numa conceção individualista e verificacionista do método científico. Objeções à perspetiva simples do método científico Esta perspetiva é insatisfatória porque:
Os pressupostos do método científico acerca da natureza da observação são contestáveis;
Os pressupostos do método científico acerca da natureza dos argumentos indutivos são polémicos.
Em relação à primeira, retiramos que a observação dos factos não é ponto de partida da ciência e a observação nunca e completamente neutra e objetiva A observação é seletiva. 1.
Crítica A observação não é o ponto de partida da ciência. Ao contrário do que pensamos, a observação dos factos não é o ponto de partida da ciência. A nossa subjetividade (conhecimento e expetativas do observador) interfere com o juízo que fazemos acerca do que vimos. Parir do princípio que o conhecimento e as expetativas de quem faz ciência não têm qualquer influência nas observações pode conduzir a conclusões erradas.
2.
Crítica A observação nunca é completamente neutra e objetiva. As observações são então profundamente influenciadas pelos conhecimentos prévios e pelas expectativas do observador. O cientista é um ser humano situado num espaço e num tempo concretos. A sua humanidade, na qual se incluem conhecimentos, mas também ideologias e valores, afetos e desejos, reflete-se no trabalho que realiza. Não existe pois, observação pura.
3.
Crítica A observação é seletiva. Os cientistas não se limitam a observar, pelo contrário, selecionam os aspetos específicos sobre os quais se concentram. Quando os cientistas, como Hooke, registam observações concentramse sobre determinados aspetos e ignoram outros. Esta seleção envolve uma decisão que revela um enquadramento mental e pressupostos teóricos prévios.
Em relação à segunda objeção (natureza dos argumentos indutivos),
Filosofia_6ºTeste_2016 Exemplo: “Todos os metais se dilatam ao serem aquecidos” – enunciado universal, pois abrange a totalidade dos acontecimentos de um tipo particular, isto é, refere-se a todas as ocasiões em que se aquecem metais.
Será que esta aparente regularidade das leis da natureza é suficiente para justificar a indução? Para Hume não: a indução e racionalmente injustificável, mesmo que permaneça psicologicamente inevitável. Qualquer tentativa de justificar a crença na fiabilidade da indução está, a partida, condenada ao fracasso. Karl Popper e o falsificacionismo Um enunciado é científico se, e somente se, for falsificável. Popper é um cético em relação ao poder preditivo da indução, Para este, o problema central da filosofia da ciência é o problema da demarcação: o que nos permite distinguir uma teoria científica de uma teoria não científica? Como se distingue da pseudociência? No final da 1ª guerra mundial surgem: a teoria física da relatividade, o marxismo e a psicanálise. A de Einstein, por ser uma teoria física era uma teoria científica fácil de aceitar, mas e com as outras áreas? São igualmente merecedoras de estatuto científico?
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O filósofo construiu um sistema em clara oposição à perspetiva verificacionista dos positivistas lógicos. A ideia central da sua perspetiva é a seguinte: Como se faz a ciência? Em alternativa à conceção individualista, Popper propõe um modelo hipotéticodedutivo em duas fases.
1º - O cientista formula uma hipótese ou teoria;
2º - Procura falsificar essa teoria.
Se o conseguir fazer, isso significa que a teoria está errada e que tem de partir em busca de uma nova. A ciência progride por meio de refutações e conjeturas. Este modelo, põe em evidência o papel central do erro como motor de progresso. A ciência avança quando conseguimos mostrar que um certo enunciado científico sobre o mundo e falso.
Assim, o estatuto da ciência e sempre provisório. Embora visemos a verdade, nunca podemos estar certos de a alcançar.
No seu ponto de vista, Popper chamou método das conjeturas e refutações, também designado por falsificacionismo.
1. Para Popper, os cientistas não iniciam o seu trabalho pela observação, mas por uma teoria. Estas, na medida em que não podem nunca ser confirmadas (indução), são sempre simples conjeturas e devem ser sujeitas a rigorosos testes experimentais que as tentem falsificar. 2. Testar uma teoria significativa, para Popper, ver se esta pode ser refutada, falsificada, isto é, procurar mostrar a sua falsidade. 3. Assim se espera, de deteção de erro em deteção de erro, avançar em direção a verdade. Por mais provas que tenhamos, nunca poderemos fizer que uma teoria é absolutamente verdadeira. Em contrapartida, podemos provar que é falsa. Os testes tem essa função. O teste que confirma a teoria é apenas mais um e, no fundo, nada prova, enquanto um único teste pode desmentir uma teoria, isto é, mostrar que essa teoria, ou parte dela, e falsa.
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Teoria falsificável vs teoria falsificada
Teoria falsificável (ou refutável) – teoria que tem a propriedade de poder ser sujeita a testes e de ser verdadeira ou falsa;
Teoria falsificada (ou refutada) – teoria que já se provou ser falsa. Foi sujeita a testes e não resistiu.
O grau de corroboração de uma teoria depende mais da severidade do que da quantidade de testes a que pode ser ou a que foi submetida. É medido através do sucesso demonstrado pela hipótese ao sobreviver aos testes.
Ver esquema pág.
220 Critério de demarcação O objetivo de Popper foi distinguir ciência de não ciência a marca da ciência é, a sua testabilidade. Neste sentido, uma teoria só tem estatuto cientifico se forma falsificável, isto e, se puder ser colocada a prova através de um teste que torne possível a sua refutação. Mas como se distingue ciência de não ciência ou da pseudociência?
Critério de demarcação – positivistas vs Popper (pág.222) Popper, com este critério de demarcação contribuiu para o desenvolvimento da epistemologia evolucionista, pois tem como objetivo mostrar que os cientistas procedem de forma racional e argumentada e aceitam a revisão das suas convicções em função das críticas que recebem.
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Racionalidade científica e a questão da objetividade Thomas Kuhn e o progresso em ciência A ciência progride por revoluções científicas. Tal como Popper, Khun foi um crítico das teorias individualistas, mas foi-o também de Popper e das teorias falsificacionistas. Como progride a ciência? A ciência é objetiva? Ao contrário da conceção normal (os cientistas descobrem mais e mais verdades sobre o mundo), Khun propõe uma conceção radicalmente nova:
Rejeita que a ciência progrida por simples acumulação de conhecimentos e sem conflitos;
Afirma que a evolução do conhecimento científico ocorre por solavancos, por abalos sucessivos, isto e, por meio de revoluções científicas.
Ver tabela pág. 230 De acordo com a perspetiva kuhniana, a partir do momento em que um novo paradigma se impõe, a ciência entra numa evolução cíclica em que alternam três fases: normal, crítica e revolucionária. O progresso de uma ciência acontece da seguinte forma.
Da ciência normal à fase crítica São resumidamente, três as tarefas
de
ampliação
do
paradigma levadas a cabo pelo
cientista
da
ciência
normal:
Determinação dos factos
significativos
Correspondência
entre
factos e teoria
Reajustamento da teoria
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Paradigma é o conceito-chave da teoria de Khun.
Um cientista não abandona facilmente um paradigma. A atividade de ciência normal, tal como Kuhn a concebe, é extremamente conservadora e dogmática. Porém, por vezes, no trabalho de ciência normal, o cientista confronta-se com falhanços, com peças do puzzle que parecem não encaixar.
A estes falhanços, dá-se o nome de anomalias. O aparecimento destas no seio do paradigma, não é, à partida, um problema, mas a sua acumulação pode vir a constitui-se como tal.
As anomalias levam a um esforço suplementar por parte da comunidade científica, no sentido de tentar preservar a visão do mundo que o paradigma encerra.
Só quando as anomalias não podem ser ultrapassadas e são acumulando e que os fundamentos do paradigma são postos em causa, instaurando-se um período de crise.
O grau das anomalias, e não apenas a sua quantidade, também contribui para a crise do paradigma, pois quanto mais graves e serias são as anomalias e quanto mais tempo resistem a eliminação, mais a crise paradigmática se acentua.
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Da fase crítica à fase revolucionária As crises, ao instalarem uma proliferação de versões do paradigma, fazem afrouxar as regras da resolução de enigmas, o que torna possível, por fim, a emergência de um novo paradigma. Acontece, então, uma revolução científica. Em que consiste?
A revolução científica corresponde a uma mudança de paradigma. Põe fim a crise e mostra que a comunidade científica aderiu a um novo paradigma. Estão, pois, criadas as condições, para que se dê inicio a um novo período de ciência normal.
O episódio revolucionário dá lugar a uma reconstrução de todo o universo cientifico, partindo de novos princípios, o que altera não apenas
as
generalizações
teóricas
mais
elementares em que se baseia o trabalho dos cientistas, como os seus métodos, aplicações e instrumentos.
Trata-se
de
uma
forma
radicalmente nova de ver o mundo.
O paradigma entra em crise porque se descobrem cada vez mais fenómenos que não estão de acordo com o paradigma. Durante uma época de crise, a confiança no paradigma diminui e a investigação característica da ciência normal dá lugar a um período de ciência extraordinário. Assim, o fim de uma crise só poderá ocorrer quando surgir um novo paradigma .
No entanto, a instauração de um novo paradigma não é tarefa fácil. Para que seja possível o seu aparecimento, é preciso que surja primeiro uma nova teoria. Quando isto acontece, afirma Kuhn, dá-se o passo decisivo para a ocorrência de uma revolução científica.
Kuhn considera que a diferença de paradigmas é de tal modo radical que eles não se podem comparar. Este facto revela que existe uma incomensurabilidade entre paradigmas. Deste modo, estamos perante uma das teses mais controversas defendidas por Kuhn, a qual nos leva a concluir que é impossível determinar
se
um
paradigma
é
superior
ou
mais
verdadeiro
do
que
outro.
Assim, pode concluir-se que o conceito de verdade é, segundo Kuhn, sempre relativo a um paradigma, ou seja, aquilo que é verdade num paradigma pode não ser noutro.
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Kuhn e o problema da objetividade científica Vamos abordar outra questão – a objetividade cientifica.
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Khun apresenta critérios objetivos para determinar o que faz com que os cientistas escolham um paradigma em detrimento de outro:
Exatidão
Consciência
Alcance
Simplicidade
Fecundidade
Normalmente os cientistas deparam-se com duas espécies de dificuldades na escolha entre paradigmas rivais. Por um lado, podem divergir quanto a aplicação de cada um dos critérios dos casos concretos; por outro, os critérios mostram repetidamente entrar em conflito uns com os outros.
Embora os dois filósofos tenham sido
profundamente
críticos
em
relação ao trabalho um do outro, a verdade é que as suas abordagens são mais complementares do que contraditórias.
Um
e
outro
contribuíram de forma decisiva, para a compreensão da natureza do conhecimento científico e do modo como progride a ciência. Ver tabela da pág. 241