40 1 29MB
C ecília M eir ele s
P o es ia Completa V o l u m e
I I
Organi zação:
A ntonio Carlos Secchin
-,
0' "it- C e c í l i a M e i r e l e s
Poesia
c
ui/) /e i a
E di ção do c e n t e n á r i o
Organização, apresen tação e estabelecim ento d e texto
Antonio Carlos Secchin
O r g a n i z a ç ã o : Antonio Carlos Secchin 2 a impressão
A EDITORA NOVA FRONTEIRA
© para edições em brochura, para vendas em livrarias, pontos alternativos, crediário e reembolso postal no Brasil, Portugal e demais países d e língua portuguesa, da E ditora N ova F ronteira S .A .
© para quaisquer outras modalidades de edição, reprodução e utilização atualmente conhecidas ou que venham a ser futuramente desenvolvidas, do condomínio dos titulares dos direitos do Autor. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta ob ra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a perm issão do detentor do copirraite.
E ditora N ova F ronteira S.A. Rua Bambina, 2 5 - Botafogo CEP 22251-050 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Tel: (21) 2131-1111 - Fax: (21) 2286-6755 http: / Avww.novafronteira.com.br e-mail: [email protected]
I
Apresentação Cecília Meireles e o tempo inteiriço Notícia biográfica Caderno de imagens Bibliografia de Cecília Meireles Bibliografia crítica e comentada de Cecília Meireles
Espectros (1919) Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923) Baladas para El-Rei (1925) Cânticos (1927) A Festa das Letras (1937) Morena, Pena de Amor (1939) Viagem (1939) Vaga Música (1942) Mar Absoluto e Outros Poemas (1945) Retrato Natural (1949) Amor em I.eonoreta (1951) Doze Noturnos da Holanda & O Aeronauta (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953)
Revisão: Gustavo Penha Eni Valentim Torres Glória Braga Onelley Cláudia Ajáz Rediagramação e finalização: Filigrana Desenhos Gráficos Capa e projeto gráfico: Adriana Moreno
V
Desenho da capa: Auto-retrato de Cecília Meireles Desenho da folha de rosto: Cecília Meireles p o r Arpad Szenes
M 453p
V olume
Parte I
Edição: Izabel Alei.ro Daniele Cajueiro
______________
Poesia Completa Cecília Meireles
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Meireles, Cecília, 1901-1964 Poesia completa / Cecília Meireles. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2001. ISBN 8 5 -2 0 9 -1 2 1 8 -4 1. Poesia brasileira. I. Título. CDD 869.91 CDU 8 6 9 .0 (8 1 )-!
olum e
II
Poemas Escritos na índia (1953) Pequeno Oratório de Santa Clara (1955) Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro (1955) Canções (1956) Poemas Italianos (1953-1956) Romance de Santa Cecília (1957) Oratório de Santa Maria Egipcíaca (1957) Metal Rosicler (1960) Solombra (1963) Sonhos(1950-1963) Poemas de Viagens (1940-1964) O Estudante Empírico (1959-1964) Ou Isto ou Aquilo (1964) Crônica Trovada da Cidade de Sain Sebastiam (1965) Parte II Dispersos (1918-1964)
mano Poemas Escritos na índia. 971 Lei do passante, 9 7 4 ; Rosa do deserto, 9 7 5 ; Som da índia, 9 7 6 ; Multidão, 9 7 7 ; Pobreza, 9 7 8 ; Canção do menino que dorme, 9 7 9 ; Participação, 9 8 0 ; Os cavalinhos de Delhi, 98 1; Tarde amarela e azul, 9 8 2 ; Cidade seca, 9 8 4 ; Humildade, 9 8 4 ; Mahatma Gandhi, 9 8 6 ; Manhã de Bangalore, 9 8 7 ; Banho dos búfalos, 9 8 9 ; Bazar, 9 9 0 ; Adolescente, 9 9 2 ; Poeira, 9 9 3 ; Lembrança de Patna, 9 9 4 ; Passeio, 9 9 5 ; Bem de madrugada, 9 9 7 ; Menino, 9 9 8 ; Santidade, 1 0 0 0 ; Canavial, 10 0 1 ; Os jumentinhos, 10 0 3 ; Horizonte, 10 0 4 ; Fala, 1 0 0 4 ; Turquesa d’ água, 1 0 0 6 ; Música, 1 0 0 7 ; Estudantes, 1 0 0 8 ; O elefante, 1 0 0 9 ; Zim bório, 1 0 1 0 ; Cego em Haiderabade, 1 0 1 1 ; Canção para Sarojíni, 1 0 1 2 ; Pedras, 10 1 3 ; Aparecimento, 1 0 1 4 ; Cavalariças, 1 0 1 5 ; Parada, 1 0 1 6 ; Manhã, 1 0 1 8 ; Tecelagem de Aurangabade, 1019; Romãs, 1 0 2 0 ; Ganges, 1021 ; Deusa, 10 2 2 ; Cançãozinha para Tagore, 1 0 2 3 ; Ventania, 1024; Golconda, 1027 ; Desenho colorido, 1 0 2 8 ; Jaipur, 1 0 2 8 ; Página, 1 0 3 0 ; Loja do astrólogo, 1 0 3 1 ; Família hindu, 1 0 3 2 ; Canto aos bordadores de Cachemir, 10 3 3 ; Mulheres de Puri, 1 0 3 4 ; Tempestade, 1 0 3 5 ; TajMahal, 1 0 3 6 ; Cançãozinha de Haiderabade, 10 38 ; Anoitecer, 1039 ; Marinha, 1 0 3 9 ; Adeuses, 1 0 4 0 ; Praia do fim do mundo, 1 0 42
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1043 Serenata, 1046; Convite, 1046; Eco, 1047; Clara, 1048; Fuga, 1049; Perseguição, 1049 ; Volta, 1 0 5 0 ; Vida, 1051 ; Milagre, 1052 ; Fim, 1052; Voz, 10 5 3 ; Luz, 1054; Glória, 1055
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1057 Eles vieram felizes, como 10 60
Canções, 1063 C anções : Se não houvesse montanhas! 1068; Inesperadamente 1068;
Como os passivos afogados 1 0 6 9 ; Muitos campos tênues 10 7 0 ; Já não tenho lágrimas: 1 0 7 1 ; Respiro teu nome. 1 0 7 2 ; Venturosa de sonhar-te, 1 0 7 3 ; Entre lágrimas se fala 1 0 7 4 ; Longe, meus amores,
1075; Naponta do morro, 1 0 7 6 ; Abriu-se ajanela 1077; Como num
Oratório de Santa Maria Kgipcíaca, 117-7
exílio, 1078; Há um nome que nos estremece, 10 79 ; D e um lado cantava o sol, 1080 ; Ribeira da minha vida, 1081; Formou-se uma rosa 10 8 2 ; P orq u e nome chamaremos 1083 ; Cavalo branco 1084 ; Aqui sobre a noite 10 85 ; Se estive no mundo 1086; D e que são fe i tos os dias? 1 0 8 7 ; Assim moro em meu sonho: 10 8 8 ; Virgem, no teu
I. Cenário de Alexandria, 1180; II. Cenário de Alexandria, 1189; III. Cenário de Jerusalém, 11 9 2 ; IV. Cenário do deserto, 1196; V. Cenário do deserto, 1197; VI. Cenário do deserto, 1199 ; VII. Cenário do deserto, 1203
coração, 1089 ; O p eso do coração! 1090 ; Homem que descansas à sombra cias árvores, 1090; Quando meu rosto contemplo, 1091; Dai-me algumas palavras, 1091: O noite, negro piano 1092 ; O rosto
M e tal R o s ic le r. 1 2 0 5
em que me encontro 1092; Como estão as montanhas 10 93 ; De longe
1. Não perguntavam p or mim, 1209; 2. Uns passeiam descansados
te hei de amar 1094; Lá, na raiz das lágrimas, 1095; Os sonhos são
1 2 1 0 ; 3. O gosto da vida equórea 12 11 ; -+. Não fiz o que mais
flores altas 1096 ; Se me atravessas a espada, 1097; Eu vejo o dia, o
queria. 1 2 1 2 ; 5. Estudo a morte, agora 12 13 ; 6. Parecia bela:
mês, o ano, 10 98 ; Dos campos do Relativo 1 0 9 8 ; Única sobrevivente
12 14 ; 7. Ai, senhor, os cavalos são outros, 12 1 4 ; 8. À beira d ’água
1099; Amor, ventura, 11 0 0 ; Tenho pena de estar contigo, 11 01 ;
moro, 1 2 1 5 ; 9. Falou-me o afinador de pianos, esse 1 2 1 6 ; 10. Em
Sabiá : I. Não me adianta dizer nada. 1104; II. Vi descer a
colcha florida 1 2 1 6 ; 11. Chuva fina, 1217; 12. Quem me quiser
tempestade, 1 1 0 5 ; 111. E é de novo madrugada, 1106; IV. Já não há
maltratar, 1 2 1 8 ; 13. Levam -m e estes sonhos p or estranhas landas,
mais dias novos, 1107; Jor.OS OLÍMPICOS: Auriga, 1110; Trapezista,
1 2 1 9 ; 14. Oh, quanto me p esa 1220 ; 15. Pelos vales de teus olhos
C iclo
do
1110; Nadador. 11 1 1 ; Equilibrista, 11 1 1 ; Aedo, 1112
12 21 ; 16. Sono sobre a chuva 1 2 2 2 ; 17. Espera-se o anestesiado 12 23 ; 18. Pois o enfermo é triste e doce 12 2 4 ; 19. Asas tênues do éter 12 2 5 ; 20 . Tristes 12 2 6 ; 2 1 . Vão-se acabar os cavalos! 1228 ;
Poemas Italianos, I 115 Discurso ao ignoto romano, 1 1 1 8 ; Oleogravura napolitana, 11 1 9 ; Ceres abandonada, 1 1 2 1 ; Ritmo de Nápoles, 11 2 2 ; Mural risonho, 1123; Florista, 1 1 2 4 ; Namorados, 11 2 5 ; Primeiro pássaro, 1 1 2 6 ; Arco, 1 1 2 7 ; Coliseu, 11 2 8 ; Alabastro, 1 1 2 9 ; Natureza quase viva, 1130; Adeus a Roma, 1 1 3 1 ; Granja, 1 1 3 2 ; Pompéia, 1 1 3 3 ; O que me disse o morto de Pompéia, 1 1 3 4 ; Descrição (Jardim de água), 1 1 3 5 ; Pompéia, 1 1 3 7 ; Roma, 1 1 3 7 ; Cave Canem, 1 1 3 8 ; Assem bléia de Pórfiro, 1 1 3 9 ; Via Appia, 1 1 4 0 ; Cores, 1 1 4 1 ; Fontana di Trem, 1 1 4 2 ; Geografia, 1 1 4 2 ; Habitantes de Roma, 1144 ; Muros de Roma, 1 1 4 5 ; Espólio, 11 4 6 ; “Writin H ater...”, 1 147; Ah!Santa Maria..., 11 48 ; Lustre, 11 49 ; Caminhante, 1 1 5 0 ; Nova Madona em Sorrento, 1 1 5 1 ; Chuva no Palácio dos Doges, 11 5 3 ; Roma, 1 1 5 4 ; Os aquedutos, 11 5 5 ; Mensagem, 1 1 5 6 ; O Santo, 1 1 5 7 ; Pedras de Florença, 1 1 5 9 ; Prenúncio em Pompéia, 11 60 ; Adolescente romano, 1 1 6 1 ; Diana, 11 6 2 ; Pintura de Veneza, 1 1 6 3 ; Canção de Sorrento, 1 1 6 3 ; Voto, 1 1 64
2 2 . Um pranto existe, delicado, 12 2 9 ; 2 3 . Chovem duas chuvas: 1 2 3 0 ; 24 . Uma pessoa adormece: 12 3 0 ; 25 . Com sua agulha so nora 1 2 3 1 ; 26 . Mais louvareis a rosa, se prestardes 1 2 3 2 ; 27 . Nas quatro esquinas estava a morte, 1 2 3 2 ; 28 . Sob os verdes trevos que a tarde 1234 ; 29 . A bailarina era tão grande 1 2 3 5 ; 3 0 . No alto da montanha já quase chuvosa 12 3 7 ; 3 1 . Como os senhores já morreram 12 37 ; 3 2 . Parecia que ia morrendo 12 3 8 ; 3 3 . Na almofada de borlas, 12 3 9 ; 3 4 . Assim iFágua entraste 1 2 4 1 ; 35 . Embora chames burguesa, 1 2 4 2 ; 3 6 . Não temos bens, não temos terra 1 2 4 2 ; 3 7 . Os anjos vêm abrir os portões da alta noite, 12 43 ; 38 . Não sobre peito ou companhia humana: 1 2 4 4 ; 3 9 . Mirávamos a jovem lagartixa transparente, 1 2 4 5 ; 40 . Eis o pastor pequenino, 1246; 41 . Cada palavra uma folha 1 2 4 7 ; 42 . Apenas uma sandália 1247 ; 43 . Ficava o cavalo branco 1248 ; 4 4 . Houve um poem a, 1249; 45 . Se um pássaro cantar dentro da noite 1250 : 4 6 . Em seda tão delida, 1 2 5 0 ; 47 . Cai a voz do Arcanjo. 12 51 ; 4 8 . Cinza pisamos, cinza. 1 2 5 2 ; 49 . Esperávamos pelo menino 1 2 5 3 ; 50 . Ao longe, amantes infelizes, 12 5 4 ; 51 . Trazei-me pinhos e trigos 1255; Negra pedra, copiosa mina 1 2 57
R om ance de San ta C ecília, 1.167 Era de família patrícia, 1170
Sijloiiiht' ii.
12~)(l
Discurso de sonho, 1313; Eu vi na verdade o céu romper-se, 1313; Em sonho anunciam a minha morte, 13 1 4 ; Sais pelo sonho como de
lens sobre noites sempre. F onde eives? Que flama 1263; Pelas ondas
um casulo e voas. 1315; Sonho de sepulcro, 1316; Um navio dá voltas
do mar. pelas erras e as pedras. 12 6 3 ; H á mil rostos tia terra: e agora
em canais sinuosos, 1317; Rua, 1318; Desenhos do sonho, 1319; Pela
não consigo 12 6 4 ; Quero ama solidão, quero um silêncio, 1265;
flor amarela viajaremos, 1320 ; Sonho sofrimento. Enlaçados, 1321;
Falar contigo. A ndar lentamente falan do 1265; Para p en sar em ti
Trinta anos no vale de exílios da sombra, 1322 ; Cavalgávamos uns
todas as horas fog em : 1266; Caminho pelo acaso dos meas muros.
cavalos, 1323; Na Ponte dos Vestidos de Gaze, 1324
1267; A rco d e pedra, to n e em nuvens embutida , 12 6 7 ; 0 gosto da
Beleza em meu lábio descansa: 1 26 8; Só tu sabes usar tão diáfano mistério: 1269; Falo de ti como se um morto apai.ro/iado 1269; () epic amamos está sempre longe de nós: 1270; Como trabalha o tempo elaborando o quartzo. 1271: Nuvens dos olhos meus, de altas chuvas paradas 1271; A s palavras estão com seus pulsos imóveis. 1272; 0 luz da //oite, descobrindo a cor submersa 1273 ; Ezi sou essa pessoa a que/// o vento chama, 1273 ; Isto (g/e vou cantando é já levado 1274; Se (/gora n/e esquecer, //ada que a riste/ alcança 1275: Quero
’«((■111,1'. dv \ iagl Us. 132-1 Old Square, 1327; Ne/r Orleans, 1 3 2 9 ; Balada a Philip Muir. 1330; II. S.A. - 1940. 1331; Corrida mexicana, 1363; Casa de Gonzaga, 1364; Canção para Van Gogh, 13 6 6 ; Desenhos da 1lolanda, 1367; Bi isa da beira do Minho, 13 7 1 ; Queluz, 1372; Poema entrelaçado, 1373; Alentejo, 1375; Três canções da Espanha, 1376 ; Imagem, 1378; Paris, 1379; Fênix marroquina, 1380 ; Tarde, inverno, lira,
roubar à morte esses rostos de nácar, 1275; /hi um lábio sobre a
13 81 ; Havia, na Suíça, a linda menina, 1383; Os dois lados do
noite: um lábio sen/ palavra. 1276; Sobre ///// passo de luz outro
realejo, 1384 ; Pesca do arenque, 1385; Desenho, 13 8 6 ; Interlúdio
passo de sombra. 12 77 ; Entre /nil dores palpitara a flo r antiga,
terrestre, 13 8 7 ; Catedral, 1 3 8 9 ; Meninos líricos, 13 9 0 ; Festa, 13 91 ;
1277; Tomo nos olhos delicadamente 1 2 78 Unia rida cantada me
rodeia. 12 7 9 ; Dizei-m e rosso nom e! A cendei vossa ausência! 1279;
Paisagem com figuras, 1393 ; Shakúntala, 1395; hífelizmente, fa lharam as fotografias, 13 9 6 ; Castelo de Maurício, 13 9 6 ; Estudo de
Esse rosto //a sombra, esse olhar na memória, 1280; Esses ade/ises
figura, 1399; ( lântico à índia pacífica, 1399; Dois apontamentos para
que caíam pelos mares, 1281
Fayek Niculá, 1401; Pastoral I, 14 0 3 ; Pastoral II, 1405 : Pastoral III,
SoiltHth. 12 O-')
’ 1405; Pastoral IV, 1406; Pastoral V. 14 0 7 ; Pastoral VI, 1408:
Pastoral VII, 14 09 ; Pastoral VIII, H IO : Canção fluvial, 1411; Festa dos tabuleiros em Tomar, 1412: Urn soldado santo, 14 13 ; Pedras de
Reparei que a poeira se misturava às nuvens, 1285; Em algum lugar
Jerusalém, 141S: Saudação a Ei lath. 1416 ; Rua dos rostos perdidos,
me encontro deitada, 1286; Apontamentos, 1287: Sonho de Maria
14 2 0 ; Os chineses deixaram na mesa, 1421 ; Rios, 14 21 ; O aquário,
Alice, 1288; Sonho com plantas o gestos amáveis, 1288; Venho do
1422; Sobre as muralhas do mar, 1424 ; Bela cidade de prata, pálida,
Sono, 1289; Sonhei um sonho, 1290; Sonhei com a bela moça que
1425 ; Dança cósmica, 1426: Tempo, 1428: Pequena suíte, 1428;
está longe, 12 9 0 ; A moça pecadora apareceu-me de branco, 1291 ;
Breve elegia ao Pandit Nehru, 14.31
Uma noite me balancei no céu, 1292 ; Outro dia sonhei que o coche fúnebre, 1293; Também já sonhei com urna ponte colorida, 1293; Sonho com earneirinhos e falas meigas, 1294; Abracemos a noite,
•,Mtiíhint!- Empírico. 14-83
1295; Pelo luar azul, entre montes e águas, 1296; Saio do sonho, da
Anatomia, 1 4 3 5 ; Mapa de anatomia: o Olho, 143(>; Todas as coisas
noite, do absurdo, 1297; Uma flor voava, 12 98 ; Estudo na loja do
têm nome, 1437: Não sei distinguir no céu as várias constelações,
sonho, 1299; Cerejas na prata, 1300; Por fluidos países passeio, 1301;
1438 ; Tradução, 1439; O sol está numa tal posição, 1440; A noite.
Com agulhas de prata, 13 02 ; Dormirei para avistar-te, 13 0 3 ; Onde
l 4 4 l ; Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem. 1442:
estão as violetas?, 1304; Menina do sonho, 1305 ; Meus amigos de
Mimetismo, 144.3; Com as minhas lições bem aprendidas, 14 44 ; No
vento e nuvem, 1307; Meninas sonhadas, 1308; Aqui estou nos vales
fruto quase amadurecido, 1446; Por enquanto, devoro apenas, 1446;
da terra, 13 0 9 ; Por detrás do mirro, 1310 ; O mármore de ar, 13 11 ;
Traspassamos o cristal, 1448; Vista aérea, 1449; Cátedras, 1450;
Hora do chá, 1 4 5 1 ; O estudante empírico, 1452; Ginástica, 14 53 ;
Poema dos inocentes tamoios, 1547 ; Retiro Espiritual de Men de Saa,
O quadro-negro, 1 4 5 4 ; Desenho. 14 5 5 ; Espaço, 14 56 Levantam-se
1550; Meditação sobre o Inferno, 1 5 5 3 ; Retrato de Cunhambebe,
do mar os planetas, 1457; Que densidades, que obediência, 1457;
1556; S. Sebastião entre as canoas, 1 5 58
Para que a escrita seja legível, 1458; Sob as árvores da infância, altíssimas, passearemos, 14 5 9 ; 0 globo, 14 60
A R 1E I I
Ou Isto ou Aquilo. 1461 P rim eir a
parte:
Colar de Carolina, 14 66 ; Pescaria, 1466; Moda da
ispersos, 1661 Aranhol, 1565 ; Casulo, 1565; O canto da jandaia, 1569; Sombra,
menina trombnda, 1467; O cavalinho branco, 1468; Jogo de bola,
1570; Poemas, 1571; Carnaval, 1573 ; Poema, 1574; Saudação à
1469; Tanta tinta, 1470 ; Bolhas, 1470 ; Leilão de jardim, 1471:
menina de Portugal, 1575 : Pensamento, 1578; Tão dolorida, tão
Rio na sombra, 1 4 7 3 ; Os carneirinhos, 14 7 3 ; A bailarina, 1474 ; O
dolorida..., 1578 ; Galiza, quem te alcançara, 1579; Adozinda, 1581;
mosquito escreve, 1475; A lua é do Raul, 1476; Sonhos da menina,
Apoio! Júpiter! Vénus!, 1585; Pequeno poema fúnebre, 1586; Os três
1477; Rômulo reina, 1478; O menino azul, 1479; As meninas, 1480;
bois, 1587 ; Serenata para Verlaine, 15 88 ; Poema do nome perdido,
O último andar, 14 81 : As duas velhinhas, 1482: Ou isto ou aquilo,
1589; Ascensão, 1590 ; Calmamente recolheremos estas palavras,
1483 ; S e g u n d a
1592; Alguém se torna presente, 15 9 3 ; De repente, a amargura sobe,
parte:
A flor amarela, i4 8 6 ; O vestido de Laura,
1486 ; Uma palmada bem dada, 1487; A chácara do Chico Bolacha,
1594; Meu parente disse consigo, 1 5 9 5 ; O peixe, 1597; Súbita vigília,
1489 ; A avó do menino, 14 9 0 ; Canção da tlor da pimenta, 1491 ;
1600; Vão saindo da tua cabeça as campinas sangrentas, 1601; Pre
Para ir à Lua, 1 4 9 2 ; Lua depois da chuva, 1492 ; Figurinhas, 1493 ;
lúdio da monção, 1602; A moura e o vento, 1605; Ninguém me venha
Passarinho no sapé, 14 95 ; A pombinha da mata, 14 96 ; O sonho e a
dar vida, 1606; Canção, 1607; Elegia sobre a morte de Gandhi, 1608;
fronha, 1497 ; A língua do nhem, 14 9 8 ; O menino dos ff e rr, 14 9 9 ;
Cidade colonial, 16 1 1 ; Pequeno poema de Ouro Preto, 16 1 3 ; 1°
Canção de Dulce, 1 5 0 0 ; Na sacada da casa, 15 00 ; Cantiga para
improviso, 1613; 2" improviso, 1614; Monólogo de Olímpia, 1616;
adormecer Lúlu, 1501; A folha na festa, 15 0 3 ; Cantiga da babá,
Poema na água, 1619; Antieclesiaste, 1621; Écloga, 1621: Briônia,
15 0 4 ; Enchente, 1505; O chão e o pão, 1506 ; Jardim da igreja,
1622; Homeopatia, 1623; Acônito 3 0 , 1624; Etusa, 1625; Um pás
1 5 0 6 ; Canção, 1 5 0 7 ; Roda na rua, 1508 ; Procissão de pelúcia,
saro [fia sob a chuva noturna, 1626; Poemas do meninozinho, 1626;
15 0 8 ; Pregão do vendedor de lima, 15 10 ; O tempo do temporal,
Sereia em terra, 1628; Improviso, 1629 ; Não se chora apenas..., 1630;
1510 ; Sonho de Olga, 1 5 1 1 ; O violão e o vilão, 15 1 2 ; A égua e a
Eternidade inútil, 1631 ; Discurso, 1632 ; Canção, 16 33 ; Réquiem,
água, 15 1 3 ; Rola a chuva, 1514; O lagarto medroso, 15 1 5 ; Uma
1634; Canção de outono, 1635; Pergunto-te onde se acha a minha
flor quebrada, 15 1 6 ; Os pescadores e as suas filhas, 15 1 7 ; O eco,
vida, 16 36 ; Luar póstumo, 1636 ; Fábula, 1637 ; O morto, 1638;
1518; O Santo no monte, 1518
Música, 1639; Epigramas, 1640; Supérfluo, 1641; Desenho quase oriental, 1642 ; Chega o verão, 1643 ; Retrato de mulher triste, 1644; Sala de espera, 1644; Soneto antigo, 1645; Dois poemas mais ou
C rônica T rov ad a, 1 5 2 1
menos obsoletos, que deviam ter sido bordados numa tapeçaria que não existiu, 1646; Música matinal, 1648; Papéis, 16 49 ; Das minhas mãos, que são tão firmes, 16 52 ; Vitrola, 1653; Sem corpo nenhum,
O lugar, 1524; Araribóia visita o governador Salema, 1525; Canção da indiazinha, 1526; Canção do Canindé, 1527; Canto do Acauã, 1528; Convívio, 1529; Cronista enamorado do sagüim, 1531: Estácio de Saa, 15 32 ; Estácio de Saa flechado em Uruçumirim, 1534 ; Delírio e morte de Estácio de Saa, 1535; Gesta de Men de Saa, 1536 ; Glorificação de Estácio de Saa, 1542; História de Anchieta, 1543: Oropacan, 1545 ;
1653; Fala-me agora, que estou cansado, 1654; Profundidade da insônia, 1655 ; Epitáfio, 16 57 ; A festa foi no alto do mundo, 1657; Papéis, 1662; Aqui chegaram, Senhor, as cegas, 16 63 ; O rio farlalha as vestes escuras, 1664; Duração, 1664; Fragmento, 1 6 6 5 ; Concerto, 1665; Longe, 1667; Os soterrados, 1672; Este odor da tarde, quando começa o cansaço dos homens, 1673; Exausta, Espírito, exausta,
1674; Não: já não falo de li. já não sei de saudades, 1675 ; Para I.úcia
trologia, 1791; A mocidade gasta em lágrimas inúteis, 1792; Dei de
Machado de Almeida, 176; Dias da rosa. 1677; Prelúdio, 1678: Para
comer aos pássaros, 1793; Tudo isso agora é como um som de outro
os livros, cujo perfume, 1679: Tomar a substância do dia, 1681;
idioma, 1794; Navio no ar, 1794; Arlequim, 1796; Exercício com
Cantigas, 1681 ; Máquina de lavar roupa, 16 82 ; Consultório, 1684;
rosa, amor, música e morte, 1797; Sombra da fama, 1798; A sombra,
O prisioneiro, 16 85 ; Bebiam os homens, 1()80; Papéis, 1688; Quero
1799; Elegia, 1800; Juramento, 1801; Agora, 1802; A diferença é
ir-me embora daqui!, 1689: Romance de uma Dona muito velha,
que uão temos os endereços, 1803 ; Elegia. 1804; Esgueiro-me por
1690; Entre a bruma opaca. 1692; Canção, 1693; Que jamais seja
entre a pedra e a nuvem, 1806: Canção, 1807; Canção das vítimas,
um sofrimento, 1694: Desenhos, 1694; Abajur de bina, 1696; Reca
1808; Além das paredes, dos móveis, 1809; Flor jogada ao rio, 1810:
do aos amigos distantes, 1697; Munumail, 1698; À memória de José
Campeonato, 1810; Rua dos rostos perdidos, 1811: Passagem do
Bruges, 17 05 ; Romance açoriano, 1706; Recitativo próximo a um
misterioso, 1812; Cavalo à música, 1813; Disse-me o cego na estrada,
poeta morto, 1 7 0 7 ; A margem do prato com o peixe pintado, 1713;
1814; Morte da formiga, 1815; Captura do dançarino, 1816; O ado
Rosa escrita, 1714; “ São Jerônimo, Santa Bárbara Virgem...” , 1716;
lescente só por belo, 1817; Arena, 18 17 ; Mensagens, 1819; Como
Campo na Índia, 1717; Tenho nos lábios o dia. 1718; 0 carrasco,
alguém que encontrou um povo em ruínas, 1819; O mártir, 1820:
1719; Chuva, 1720 ; Paisagem e silêncio, 1720; As pérolas, 1722;
Aurora, 1822; Balada do pobre morto, 1823; Jardim do precioso,
Conheço a residência da dor, 1722; Disposições finais, 1723; Visitação,
1824; Canção, 1825; Adeus — não para alguma separação, 1826;
1724; Espelho cego. 1725; Esta que em silêncio, 1726; Ah, se recu
Canto, 1826 ; Por muitas esquinas, 1828; Nesse lugar certamente nos
perássemos tudo o que amamos e perdemos!, 1727; Vento sul, 1728;
encontraremos, Poeta, 1829 ; Máquina breve, 1830 ; Hoje, a alegria
Lei, 1729; I humidade, 1730; Improviso à janela, 1731: Novo impro
são estes jasmineiros, 1831; “Todas as aves do mundo de amor can
viso à janela, 1732; A lágrima que se acumula..., 1732; A ninguém
tavam...” , 1832; O pássaro mágico, 18 33 ; Menestréis tão conhecidos,
preciso dizer adeus, 1733 ; Até quando terás, minha alma, esta doçu
1834; Pedido ria rosa sábia, 1835; Procurarei meu rosto na água, nos
ra, 1733; Sobrevivência, 1734; Neste longo exercício de alma..., 1734:
vidros, nos olhos alheios, 1836; Canção, 1837 ; Quem leva a donzela.
Passado, 1735; Canção, 1736; Felizes os que podem mover facilmen
1837; Essas doces mortes visitam-nos quando?, 1839; Rosa, 1840;
te os olhos, sem os ver transbordar, 1737; Papéis, 1738: Desenho sem
Não vamos começar a cantar, 1840; Coroa altiva, 1841; Serva sou:
título, 1741: Mensagem a um desconhecido, 1742; Com pena penso
mas que serviço, 1842; Tristeza gloriosa, 1842; Confessor medieval,
em ti, que não me atendes, 1742: Diálogos do jardim. 174.3; Tempes
1843 ; Negra terra consolante, 1844; Para onde é que vão os versos,
tade, 1745; Manuel em pelote domingueiro, 1746; Inscrição. 1748;
1845; Ida e volta, 1846: Hieróglifo, 1846; Vigília das mães, 1847:
Banho imaginário, 1749 ; Inscrição, 17 50 ; Inscrição natalícia, 1752;
Falai de Deus com a clareza, 1848: Canção, 18 49 ; Tudo isto é um
Elegia dos boêmios, 1753; Arqueologia, 1757; Prisão, 1759; Esta
tempo de rápidas inconstâncias, 1850; Borboleta violenta, 1851; Copo
vaga infelicidade, 1760; Cantar ao cantor, 1762; O jardim sobre a
da puma de prata, 1852; Família, 1853 ; A desconhecida, 1854; O
mata, 1763; Pregão do infortúnio, 1764 ; O chapéu impossível, 1765;
mártir agonizante chora, 1855; Os elefantes negros, 1856; Manhã
Não há mais daqueles dias extensos, 1766; Contaria uma história
clara, 1857 ; Habitamos este arquipélago, 1858; As borboletas bran
simples, 1767; Tarde de chuva, 1768; Oh! como está triste aquele,
cas, 1859; Cato na garagem, 18 60 ; Motorista sonhador, 1861; Mi
1770; Dona Tília, 1770; Sobre a floresta verde, 1772; A lua, 1772;
niatura do duque de Breslau, 1864 ; Esboço de cantiga, 18 65 ; Alba
Fábula, 1773; A palmeira, 1773; Zodíaco, 1774; Mapa falso, 1775;
foliácea, 1866; Vamos, vamos ser trovadores agora, 18 6 7 ; O que um
Hoje, é a voz do pássaro a minha companhia, 1776; O mundo dos
dia foi imagem, 1868; Chovia muito esta noite, 1869 ; Agora, 1871;
homens envolve-me, 1777; Eis o menino de sal. 1777; Como se mor
Eis a casa, 1872; O bisavô contava libras, 1874; “ Cata, cata. que é
re de velhice, 1779; Discurso aos infiéis, 1780; Fotografia do poeta
viagem da índia...” , 1876: Adivinhação do personagem, 1880: Per
morto, 1781; Manhã de chuva na infância, 17 82 ; barde de chuva na
sonagem. 1882; Esta impaciência que me divide, 1884; Meus amores
infância, 1783; Santo Humberto, 1784; Biografia, 1785; Como alguém
muitos, 1885; Morte no aquário, 1886; Somos três, 1887: Do mar
que acordou muito tarde, 1786; A morta, 1786; A velhice pede des
onde as colunas rolam, 1889; A tarde toda de chuvas suspensas, 1890:
culpas, 1788 ; Da solidão, 1789; Pelo horizonte de areias, 1791; As
O verso melancólico, 18 92 ; Uma pequena aldeia, 1893 ; Fecharam-se
as casas, 1 8 9 4 ; Vai chover. 1896; Terrina, 1897 ; A enxurrada, 1898; Meus dias foram aquelas romãs brunidas, 1900 ; Há delicadas músi cas de harpa e de cravo, 1900; Agora tenho umbraço de gesso, 1901; Se os anjos falarem, 1903; Vivian Leigh no Rio em tarde de maio, 1903; Quarto de hospital, 1905; E assim passamos a tarde, 1906; Estou na idade em que se morre, 19 0 6 ; Canção de Taxfin, 1907; Navegação, 1 9 0 8 ; Tapeçaria de Dame Gisèle, 19 0 9 ; Meu pasto é depois do dia, dos horizontes, 1910 ; Lição de história, 1912; Mulher de leque, 19 1 5 ; Do mar ao céu para onde sobem, 19 15 ; A sombra da abelha, 1916; Aquele cordeirinho que eu vi nascer, 1917; O meu Deus, 1918; Os homens rústicos rezavam, 19 18 ; Chovia e eu estava como
CBCIL1A ME1BELES
numa floresta de harpas, 1919 ; Os vivos afastam os vivos, 1919; Glórias do vento, 1920; E agora que farei do velho céu azul e das longas montanhas, 19 21 ; Sepulcro, 1922; Já não sou eu, mas a flor, 1923; A cama era uma barca, 19 23 ; As escadas medievais, sem ba laústre e sem patamares, 1925 ; É preciso não esquecer nada, 1926; Ainda havia soluços, 1926; Tentativa, 1927 ; Écloga, 1928 ; Deito-me à sombra dos meus cabelos, 1929; Desenhos, 19 31 ; Vinde, ú anjos, com as vossas espadas, 1932; Os mortos sobem as escadas, 1932;
POEMAS ESCRITOS NA Í ND I A
Morro do que há no mundo, 1933; Plantaremos estes arbustos, 1934; Aquele que aproxima os que sempre estarão, 1934; Epitáfio, 1935; Dizei-me com poucas palavras, 19 36 ; Umas e brisas, 1936 ; Ai, que se nos foi a vida em cavalgar..., 1937; Por essas ruas que não têm chão, 19 37 ; Horário de trabalho, 19 38 ; Viagem nas cores, 1939 ; Rua da Estrela, 1940 ; Cantar de vero amor, 1942; Cantata da cidade do Rio de Janeiro: I / A fundação, 19 4 4 ; II / O século XVII, 1946; III / O século XVIII, 1946 ; IV / O século X IX , 19 4 7 ; V / O século X X ; Todos acordamos tristes e impacientes, 19 50 ; Parusia, 19 5 0 ; Vôo, 1951; Rimancim para Lélia Frota, 1952; O pássaro obediente, 1954; Linha reta, 1954 ; Casa antiga, 1955; Tempo de Gisèle, 19 56 ; Três orquídeas, 1957 LI VRARI A ndice de títulos .e prim eiros versos, 1 9 5 9
SÃO
J OSÉ
Poemas Escritos na índia ( 1953)
Poemas escritos na índia. Rio de Janeiro: Livraria São José, [1961]. 167 p.
Na página anterior. capa da primeira edição de Poemas escritos na índia.
I .d do passante
I
Rosa do deserto
Passante quase enamorado,
Eu vi a rosa do deserto
nem Urre nem prisioneiro,
ainda de estrelas orvalhada:
constantemente arrebatado,
era a alvorada.
— fiel? saudoso? amante? alheio? — a escutar o chamado,
Por mais que parecesse perto,
o apelo do mundo inteiro,
não vinha daqueles lugares
nos contrastes de cada lado...
de céus e mares.
Chega?
Os aéreos muros do dia punham diamantes na paisagem:
Passante quase enamorado,
clara miragem.
já divinamente afeito » í "-974
a amar sem ter de ser amado,
E a voz dos Profetas batia
porque o tempo é traiçoeiro
contra imensas portas de vento
e tudo lhe é tirado
seu chamamento.
repentinamente do leito, malgrado seu querer, malgrado...
Reis-touros e deusas-hienas brandiam seus perfis de outrora
Passa?
à ardente aurora.
Passante quase enamorado,
Trágicas e divinas cenas
pelos campos do inverdadeiro,
ali jaziam soterradas,
onde o futuro é já passado...
sem madrugadas.
— Lúcido, calmo, satisfeito, — fiel? saudoso? amante? alheio? —
Eu vi a rosa do deserto:
só de horizontes convidado...
a exata rosa, a ígnea medida da humana vida.
Volta?
P o e m a s Escritos na índia
Po ca i a C o m p l e t
En vi o mundo recoberto
entre a noite imóvel
pela manhã de claridade
e o nosso ouvido.
da incandescente eternidade.
Mi i l i i d í m h um da ( mi m Mais que as ondas do largo oceano Talvez seja o encantador de serpentes!
e que as nuvens nos altos ventos, corre a multidão.
Ma s nossos olhos não chegam a esses lugares de onde vem sua música.
Mais que o fogo em floresta seca, luminosos, flutuantes, desfrisados vestidos
(São uns lugares de luar, de rio, de pedra noturna,
resvalam sucessivos,
onde o sonho do mundo apaziguado repousa.)
entre as pregas, os laços, as pontas soltas dos embaralhados turbantes.
976
977
Mas talvez seja ele. Aonde vão esses passos pressurosos, Bhai? As serpentes, em redor, suspenderão sua vida,
A que encontro? a que chamado?
arrebatadas.
em que lugar? por que motivo?
(Oh! elevai-nos do chão por onde rastejamos!)
Bhai, nós, que parecemos parados, por acaso estaremos também,
E muito longe o nosso pensamento em serpentes se eleva
sem o sentirmos,
na aérea música azul que a flauta ondula.
correndo, correndo assim, Bhai, para tão longe, sem querermos, sem sabermos para onde,
Por um momento, o universo, a vida
como água, nuvem, fogo?
podem ser apenas este pequeno som enigmático
Bhai, quem nos espera, quem nos receberá, quem tem pena de nós.
P o e m a s Escritos na India
cegos, absurdos, erráticos,
Ele estava de mãos postas
a desabarmos pelas muralhas do tempo?
e, ao pedir, abençoava.
Era um homem tão antigo
Pobreza
que parecia imortal. Tão pobre
Não descera de coluna ou pórtico,
que parecia divino.
apesar de tão velho; nem era de pedra, assim áspero de rugas;
Canção do menino que dorme
nem de ferro, embora tão negro.
Quente é a noite, o vento não vem.
Não era uma escultura, 978
E o menino dorme tão bem!
ainda que tão nítido,
979
seco,
Menino de rosto de tâmara,
modelado em fundas pregas de pó.
tênue como a palha do arroz, os bosques da noite vão tirando sonhos
Não era inventado, sonhado,
de dentro de cada flor.
mas vivo, existente, imóvel testemunha.
Aguas tranqüilas, com búfalos mansos, elefantes de arco-íris na tromba.
Sua voz quase imperceptível
Pássaros que cantam nas varandas verdes
parecia cantar — parecia rezar
das mangueiras redondas.
e apenas suplicava. E tinha o mundo em seus olhos de opala.
Ah, os macaquinhos do tempo de Rama constroem rendadas pontes de bambu,
Ninguém lhe dava nada.
menino de luz e colírio,
Não o viam? Não podiam?
são de ouro e de açúcar os pavões azuis!
Passavam. Passávamos.
Po es ia ( ' o m p l e I a
P o e m a s Escritos ria índia
Passam como deusas noivas escondidas
Mas só de muito perto se podia sentir a sombra das mãos
em cortinas de seda encarnada:
que outrora houveram afeiçoado
em volta são grades e grades de música,
coloridos minerais
de dança, de flores, de véus de ouro e prata.
para aqueles desenhos perfeitos. E o perfil inclinado do artesão,
Quente é a noite,
ido no tempo anônimo,
o vento não vem.
um dia ali de face enamorada em seu trabalho,
E o menino dorme tão bem!
servo indefeso.
Oh, a monção que levanla as nuvens,
E só de infmitamente perto se podia ouvir
que faz explodir os trovões,
a velha voz do amor naquelas salas.
não leva os meninos de retrós e sândalo,
(O jorros de água, finíssimas harpas!)
tênues como a palha do arroz!
E os nomes de Deus, inúmeros, em lábios, paredes, almas...
980
Participação
(O longas lágrimas, finíssimos arroios!)
De longe, podia-se avistar o zimbório e os minaretes
Pobreza, riqueza,
e mesmo ouvir a voz da oração.
trabalho, morte, amor, tudo é feito do lágrimas.
De perto, recebia-se nos braços aquela arquitetura de arcos e escadas,
P o e s La (' o m p l e t a
mármores reluzentes e tetos cobertos de ouro.
Os cavalinhos do Delhi
De mais perto, encontrava-se cada pássaro
Entre palácios cor-de-rosa,
embrechado nas paredes,
ao longo dos verdes jardins,
cada ramo e cada llor,
correm os cavalinhos bizarros,
e a fina renda de pedra que bordava a tarde azul.
os leves, ataviados cavalinhos de Delhi.
P o e m a s Escritos na índia
Plumas, ílores, colares, xales,
tudo se mistura aos veneráveis bois
tudo que enfeita a vida está aqui:
que sobem e descem em redor dos poços.
penachos de cores brilhantes, ramais de pedras azuis,
Dourados campos solitários,
bordados, correntes, pingentes...
longas e longas extensões cor de mostarda. São ílores?
Chispam os olhos dos cavalinhos
Lua do crepúsculo abrindo no céu jardins aéreos,
entre borlas e franjas:
nuvens de opalas delicadas.
entre laços e flores cintilam os dentes claros dos leves, ágeis cavalinhos de Delhi.
Poços e poços. E mulheres carregando ramos ainda com folhas, árvores caminhantes ao longo da tarde silenciosa.
Os cavalinhos de Delhi são como belas princesas morenas de flor no cabelo,
Passeiam os pavões, reluzentes e felizes.
aprisionadas em sedas e jóias
Caminham os búfalos mansos, de chifres encaracolados.
ou como dançarinos abrindo e fechando véus dourados
Caminham os búfalos ao lado dos homens: uma só família.
982
983
e sacudindo suas pulseiras de bogari. E os ruivos camelos aparecem como colinas levantando-se, Mas de repente disparam com seus carrinhos encarnados
e passam pela última claridade do crepúsculo.
e parecem cometas loucos, dando voltas pelas ruas, os caprichosos cavalinhos de Delhi.
Todas as coisas do mundo: homens, flores, animais, água, céu...
Tarde amarela e azul Quem está cantando muito longe uma pequena cantiga? Viajo entre poços cavados na terra seca. Na amarela terra seca. Poços e poços de um lado e de outro.
De uma exígua moita, sai de repente um bando de pássaros: como um fogo de artifício todo de estrelas azuis.
Sáris amarelos e azuis, homens envoltos em velhos panos amarelados,
(E o deserto está próximo.)
crianças morenas e dóceis;
Poesia C o Mp i e /. a
P o e m a s Escritos na India
Cidade seca
Prata nas narinas, nas orelhas,
A estrada — pó de açafrão que o vento desmancha.
nos dedos,
E quem passa?
nos pulsos.
() esqueleto visível do poço com suas escadas antigas.
Ptdseiras nos pés.
E quem chega? Uma pobreza resplandecente. Pelos palácios vazios, paredes de nácar, de espelhos baços, Toda negra:
lí quem entra?
frágil escultura de carvão. Chuva nenhuma, jamais. Os rios de outrora — vales de poeira. Toda negra:
E quem olha?
e cheia de centelhas. 985
Ainda rósea, e crespa de inscrições, de arcos, pórticos, varandas, a cidade admirável
é um cravo seco na mão do sol reclinado.
Varre seu próprio rastro.
Do sol que ainda a beija, antes de morrer, também. Apanha as folhas do jardim aos punhados,
I Intui Idade
primeiro; uma
Varre o chão de cócoras.
por
1lumilde.
uma
Vergada.
por fim.
Adolescente anciã. Depois desaparece, Na palha, no pó
tímida,
seu velho sári inscreve
como um pássaro numa árvore.
mensagens de sol com o tênue galão dourado.
P o e s i a c o ni u /
P o e m a s Escritos na índia
Recolhe à sombra
De alio a baixo, de mar' a mar, em mil idiomas,
suas luzes:
o Mahatma.
ouro, prata,
Construtor da esperança, mestre da liberdade,
azul.
o Mahatma.
E seu negrume. Noite e dia, nos poços, nos campos, no sol e na lua, O dia entrando em noite.
o Mahatma.
A vida sendo morte. 0 som virando silêncio.
No trabalho, no sonho, falando lúcido, o Mahatma.
Malialma Candlh f
De dentro da morte falando vivo, o Mahatma.
986
Nas grandes paredes solenes, olhando, o Mahatma.
987
Na bandeira aberta a um vento de música, o Mahatma.
Longe no bosque, adorado entre incensos, o Mahatma.
Cidades e aldeias escutam atentas: é o Mahatma.
Nas escolas, entre os meninos que brincam, o Mahatma.
Manhã de Bangalore Em frente do céu, coberto de llores, o Mahatma.
Auriceleste manhã com as estrelas diluídas numa luz nova.
Na vaca, na praia, no sal, na oração, o Mahatma.
Um suspirar de galos através dos campos, lá onde invisíveis cabanas acordam,
Po e s i. a ( 'o rnp le / n
P o e m a s Escritos na índia
cinzentas e obscuras,
E a bela moça morena, com uma rosa na mão
porém cheias de deuses sob os tetos de palha.
e os dentes cintilantes.
Auriceleste manhã com a brisa da montanha, a rósea hrisa,
Banho dos búfalos
desenhando seus giros de libélula no horizonte de gaze.
Na água viscosa, cheia de folhas, com franjas róseas da madrugada,
Deslizam bois brancos e enormes
entram meninos levando búfalos.
de chifres dourados — oscilantes cítaras
Búfalos negros, curvos e mansos,
com borlas vermelhas nas pontas.
— oh, movimentos seculares! — odres de leite, sonho e silêncio.
As primeiras mulheres assomam à janela do dia, 988
já cheias de pulseiras e campainhas,
Cheia de folhas, a água viscosa
entreabrindo seus véus como cortinas da aurora.
brilha em seus llancos e no torcido
989 ,
esculturado lírio dos chifres. E o caminho vai sendo pontuado de estrelas douradas,
Sobem c descem pela água densa,
aqui, ali, além,
finos e esbeltos, por entre as flores,
no bojo dos vasos de cobre,
estes meninos quase inumanos,
os vasos de cobre polido que elas carregam como coroas.
com o ar de jovens guias de cegos, — oh, leves formas seculares —
Ai, frescura de rios matinais,
tão desprendidos de peso e tempo!
de panos brancos que ondulam ao sol! O dia límpido, azul e verde
P o .ví a Co tu/>/ I a i a
P o e m a s Escritos na índia
fomos lágrima e saudade
Sacode as alvas roupas que os lavadeiros estendem,
por seus nomes e seus vultos.
inclina as flores, levanta as folhas secas,
Àquele lado do tempo
alisa a poeira amarela,
onde abre a rosa da aurora,
açula gatos e cães,
e onde mais do que a ventura
revolve os cabelos dos homens,
a dor é perfeita e pura,
incha os imensos véus das mulheres de olhos vítreos,
chegaremos de mãos dadas.
apalpa as areias, as pedras, as sementes caídas, espia dentro dos ninhos, brune os pequenos ovos,
Chegaremos de mãos dadas,
tufa a penugem dos pássaros,
Tagore, ao divino mundo
balança as plantas,
em que o amor eterno mora
entontece as árvores:
e onde a alma é o sonho profundo
a ventania.
da rosa dentro da aurora. A ventania aqui não se cala.
> J< 1 0 2 4
Chegaremos de mãos dadas cantando canções de roda. E então nossa vida toda será das coisas amadas.
1025
Mais do que a voz das aves e das águas, é a sua que se eleva, rumorejante, sussurrante, crepitante, queixosa,
Ventania
risonha, desmesurada.
Aqui a ventania não dorme,
Que diz às nuvens?
com suas mãos crepitantes,
Fala da seda que viu nos teares, harpa luminosa?
seus guizos,
Que conta aos jardins?
seus adereços de campainhas eóleas.
As flores de ouro e prata e pedra e marfim que encontrou [de passagem?
Dia e noite vagueia pelos parques e pelas ruas a ventania.
Que conta à noite? As pequenas estrelas na testa das mulheres
P o e s i a (' o m p l e t a
P o e m a s Escritos ria India
e as negras luas de seus plácidos olhos?
(rolconda
Oh. a ventania! Meu peito é mesmo Golconda: O dia inteiro, a noite inteira, a ventania fala. De neves, de golfos, de lótus, de búfalos, de túmulos, de bazares,
pássaros estão colhendo esmeraldas e diamantes e há caçadores de ronda.
de palácios, mendigos, chamas, cavalos, rios, vôos. Fala nas ruas, nos quintais, nos jardins, nos pátios,
Tumbas de reis e rainhas vão-se afundando em silêncio no invencível pó do tempo dono das saudades minhas.
a ventania. Cada diamante guardado A ventania bate à nossa porta, à nossa janela, e quer entrar, 1026
esta viajante cansada, a ventania.
A ventania é uma aia com suas trouxas de histórias. Conta histórias, inventa histórias, baralha histórias.
é para ladrões inquietos que partilham as centelhas
1027
do íntegro sol cobiçado.
Ai, que meu peito é Golconda, com raízes de esmeralda, com cataratas de luzes
Nomes, lugares, pessoas, datas,
e os assaltantes de ronda.
tudo vai sendo debulhado em lantejoulas. Cristalino parapeito A ventania é uma aia a bordar os sonhos e as conversas: dedais de ar, fios de ar, agulhas de ar no ar, nos ares, pontos de ouro e prata nas sedas da memória.
da morte! Sombras do mundo, mãos do roubo, falsos olhos, passai. — Golconda é o meu peito.
A ventania.
/' . s i n Vo m p l e t a
P o e m a s Escritos na India
IVsenlio colorido
Adeus, elefante de língua rósea, vetusto irmão,
Brancas eram as tuas sandálias, Bhai,
comedor de açúcar,
brancos os teus vestidos,
ancião paciente.
e o teu vasto xale de pachemina. Adeus, Jaipur e espelhos de Arnber Palace, Negros eram os teus olhos, Bliai,
jardins extintos, grades redondas,
absoluta noite sem estrelas,
mortos olhos que espiavam por essas rendas de mármore.
noturníssima escuridão fora do mundo.
Adeus, cortejos dourados, música de casamentos, festa bailada e cintilante das ruas, e trinados de flauta.
Vennellia, a rosa que trazias, que oferecias juntamente com a aurora, como recém-cortada do céu. : t .1028 Em branco, negro e vermelho fica a tua imagem,
Adeus, sacerdote de candeia fumosa, tantas luzes por tantos bicos, e os gongos e os sinos e a porta de prata
1029
f
e a Deusa antiga, e a existência fora do tempo.
Bhai. Fica o desenho da tua cortesia, sentido de um mundo antigo sobrevivendo a todos os desastres:
Adeus, pinturas, corredores, mirantes, muralhas, escadas de castelo, mendigos lá embaixo, criancinhas que pedem esmola como quem canta.
e a rosa, como tu, vinha de olhos semicerrados.
Adeus, Jaipur. Adeus, letras do observatório, pulseiras de prata das mulheres que vendem tangerinas
Jaipur
pelo crepúsculo. Adeus, fogareiros de almôndegas,
Adeus, Jaipur,
adeus, tarde morna de erva-doce, canela e rosa,
adeus, casas cor-de-rosa com ramos brancos,
cravo, pistache, açafrão.
pórticos, peixes azuis nos arcos de entrada.
Poesia
( , ,it j, /, .
P o e m a s Escritos na India
Adeus, cores.
Entre arabescos de mil voltas,
Adeus, Jaipur, sandálias, véus,
um verso antigo.
macio vento de marfim. Uma palavra imortal, sozinha. Adeus, astrólogo.
E o resto, a farfalhante floresta
Muitos deuses sobre o Palácio do Vento.
da intricada moldura.
(Onde eu devia morar!) Sobre o Palácio do Vento meus adeuses: pombos esvoaçantes. Meus adeuses: rouxinóis cantores.
I >ja do íiMróiogo
Meus adeuses: nuvens desenroladas. Meus adeuses: luas, sóis, estrelas, cometas mirando-te.
Era astrólogo ou simples poeta?
Mirando-te e partindo,
Era o vidente do ar.
Jaipur, Jaipur.
Tinha uma loja azul-cobalto, claro céu dentro do bazar. Teto e paredes só de estrelas:
1030
IV iiriim
e a lua no melhor lugar.
Entre mil jorros de arco-íris e entrelaçados arroios,
Sentado estava e tão sozinho
entre mil flóreos turbantes e faixas vermelhas
como ninguém mais quer estar.
e rendas de jaspe e chispas de pássaros
Conversava com o céu fictício
c coleções de flores nunca vistas
que em redor fizera pintar.
— urn sorriso brilha,
Que respostas receberiam
um gesto pára desenhado
as perguntas do seu olhar?
e uma palavra se imprime. (Dentro da tarde inesquecível,
P o e s i a ( ':o m p I c f a
É urna figura, apenas,
houve o céu azul num bazar,
na riqueza prolixa
perto da alvura da mesquita,
da imensa tarde oriental.
na fresquidão tle Tchar Minar.
P o e m a s Escritos na índia
Viu-se um homem de além elo mundo:
A alma condescende em ser corpo,
era o vidente do a r!)
abandonar seu paraíso. Deus consente que os homens venham a esta intimidade de amigos,
Família hindu
somente por mostrar que se amam, que estão no mundo, que estão vivos.
Os sáris de seda reluzem como curvos pavões allivos.
Depois, a música se apaga,
Nas narinas fulgem diamantes
diz-se adeus com lábios tranqüilos,
em suaves perfis aquilinos.
deixa-se a luz, o aroma, a sala,
Há longas tranças muito negras
com os serenos perfis divinos,
e luar e lólus entre os cílios.
sobe-se ao carro dos regressos,
I lá pimenta, erva-doce e cravo,
na noite, de negros caminhos...
crepitando em cada sorriso. 1033^|< Os dedos bordam movimentos
Canto aos bordadores de Cachemir
delicados e pensativos, como os cisnes em cima da água
Finos dedos ágeis,
e, entre as flores, os passarinhos.
como beija-flores,
E quando algúérn fala é tão doce
voais sobre as sedas,
como o claro cantar dos rios,
sobre as lãs macias,
numa sombra de cinamomo,
com finas agulhas,
açafrão, sândalo e colírio.
ó bordadores, semeais primaveras,
(Mas quase não se fala nada,
recolheis primores.
porque falar não é preciso.) Os jardins do mundo Tudo está coberto de aroma,
aos vossos bordados
em cada gesto existe um rito.
não são superiores, ó bordadores,
(' o mp !c t a
P o e m a s Escritos na índia
e voais, finos dedos, para longe, sempre, para novas sedas, como beija-flores,
Quando as estradas ficarem prontas, mulheres de Puri, alguém se lembrará que está passeando sobre a sombra de vossos calmos vultos azuis e negros.
com o bico luzente de finas agulhas, ó bordadores, atirando fios,
Alguém se lembrará de vossos pés diligentes, com pulseiras de prata clara. Alguém amará, por vossa causa, o chão de pedra.
aos fios do arco-íris, recolhendo cores, desenhando pontos, inventando flores que não morrem nunca,
E vossos netos falarão de vós, mulheres de Puri, como de ídolos complacentes, benfeitores e anônimos,
6 bordadores, de sol nem de chuva nem de outros rigores.
Mulheres de Pu ri Quando as estradas ficarem prontas, mulheres de Puri, alguém se lembrará de vossos vultos azuis
e entre os ídolos ficareis, inacreditáveis,
1035
mudas, negras e azuis.
Tempestade Suspiraram as rosas e surpreendidas e assustadas esconderam-se nos seus veludos.
entre os templos e o mar. Não eram borboletas! Alguém se lembrará de vosso corpo agachado, deusas negras de castos peitos nus,
Nem rouxinóis! Não eram pavões que passavam pelo jardim.
de vossas delgadas mãos a amontoarem pedras para a construção dos caminhos.
De um céu ruidoso caíam essas grandes asas luminosas e inquietas.
P o e m a s Escritos na índia
Relâmpagos azuis voavam entre os canteiros,
Tudo como através de lágrimas,
retalhando os lagos.
com as bordas franjadas de antiguidade, de indecisos limites,
Tremiam veludos e sedas,
e um vago aroma vegetal, logo esquecido.
e o pólen delicado, na noite violenta,
Tudo celeste, inumano, intocável,
alta demais,
subtraindo-se ao olhar, às mãos:
despedaçada,
fuga das rendas de alabastro e dos jardins minerais,
despedaçante.
com lírios de turquesa e calcedônia pelas paredes;
Ah, como era impossível
fuga das escadas pelos subterrâneos.
suster a forma das rosas!
E os pés naufragando em sombra.
Eis o sono da rainha adorada:
Taj-M alial
longo sono sob mil arcos, de eco em eco.
1037
(Fuga das vozes, livres de lábios, independentes, Somos todos fantasmas
continuando-se...)
evaporados entre água e frondes, com o luar e o zumbido do silêncio,
Vêm morrer castamente os bogaris sobre os túmulos.
a música dos insetos,gaze tensa na solidão.
Movem-se apenas sedas, xales de lã, alvuras: como sem corpo nenhum.
De vez em quando, uma borbulha d’àgua: pérola desabrochada,
Tudo mais está imóvel, extático:
súbito jasmim de cristal aos nossos pés.
mesmo o rio, essa vencida espada d água: mesmo o lago, esse rosto dormente.
Fantasmas de magnolias, as cúpulas brancas, orvalhadas de estrelas, na friagem noturna.
Entre a morte e a eternidade, o amor, essa memória para sempre.
P o e rn a s Escritos na índia
Foi uma borbulha d’água que ouvimos?
Anoitecer
Uma ílor que desabrochou? Uma lágrima na sombra da noite,
Ao longo do bazar brilham pequenas luzes.
em algum lugar?
A roda do último carro faz a sua última volta. Os búfalos entram pela sombra da noite, onde se dispersam.
Cançãozirilia de I laiderahadc
As crianças fecham os olhos sedosos. As eahanas são como pessoas muito antigas,
I laiderabade:
sentadas, pensando.
anel de praia com a só turquesa
I Ima pequena música toca no fim do mundo.
da água parada. Aro de cinza
I Ima pequena lua desenha-se no alto céu.
e azul represa 1038
aprisionada.
1039
I Ima pequena brisa cálida llutua sobre a árvore da aldeia
Lua, princesa
como o sonho de um pássaro.
do céu, velada, do arco das nuvens,
Oh, eu queria ficar aqui,
mira esla tarde
pequenina.
abandonada!
I laiderabade,
.Marinha
cinza de pedra, cinza de prata,
O harco é negro sobre o azul.
círculo, névoa,
P o e ,-í i a ('; o ui ]> /e i a
turquesa d’água.
Sobre o azul, os peixes são negros.
Mais nada.
Desenham malhas negras as redes, sobre o aztd.
P o e m a s Escritos na índia
Sobre o azul, os peixes são negros.
Dia de cristal, claro, dourado,
Negras são as vozes dos pescadores,
eóleo.
atirando-se palavras no azul. Foi muito longe, E o último azul do mar e do céu.
num palácio de inúmeras varandas, com árvores cheias de flores pela colina.
A noite já vem, dos lados de Burma, toda negra,
O vento subia dos jardins para as salas
molhada de azul:
com a fluidez de um visitante jovial.
— a noite que chega também do mar.
E com que leveza dançava, abraçado às cortinas, às sedas, aos véus, à luz!...
Adeuses
1041
*T»
Sabíamos que os encontros jamais se repetem, Dia de cristal
nem a emoção do alto amor.
cercado de vultos brancos: pés descalços,
Éramos todos de cristal e vento,
finas barbas, •
de cristal ao vento.
longas vestimentas pregueadas. E andavam nuvens de saudade por cima dos jardins. Mulheres com olhos de deusas transbordando um majestoso silêncio.
Tão grande, o mundo! Tão curta, a vida!
Luz em copos azuis.
Os países tão distantes!
Lábios em oração. Mãos postas.
E alma. E adeuses.
P o e s i a C o m p lo 1a
P o e m a s Escritos na índia
Praia do fim do mundo Neste lugar só de areia, já não terra, ainda não mar, poderíamos cantar.
O noite, solidão, bruma, país de estrelas sem voz, que cantaremos nós?
As sombras nossas na praia podem ser noite e ser mar, pelo ar e pela água andar. 1042
Mas o canto, mas o sonho, de que modo encontrarão o que não é vão?
Cantemos, porém, amigos, neste impossível lugar que não é terra nem mar:
na praia do fim do mundo que não guardará de nós sombra nem voz.
P o e s i a C o rnp i e t
Pequeno Oratório de Santa Clara ( 1955)
Pequeno oratório de Santa Clara. Rio de Janeiro, Philobiblion, 1955. 65 p. + índice. Edição de 320 exemplares em papel Ingres. Gravuras de Manuel Segalá. Exemplares acondicionados num estojo dc madeira que imita um oratório.
Na página anterior: capa da primeira edição de Pequeno oratório de Santa Clara.
St t
p i
Ia
fa
Por ela se transfigura, — que é a sua Amada!
Uma voz cantava ao longe entre o luar e as pedras. E nos palácios fechados, entregues às sentinelas, — exaustas de tantas mortes, de tantas guerras! — estremeciam os sonhos
Por ela esquece o que tinha: prestígio, família, casa... Fechai os olhos, donzelas! (Mas, se sentis perturbada pela grande voz da noite a solidão da alma, — abandonai o que tendes,
no coração das donzelas.
e segui também sem nada
Ah! que estranha serenata,
essa ílor de juventude
eco de invisíveis festas!
que canta e passa!)
A quem se dirigiriam palavras de autor tão belas, tão ditosas
1 04 6
! V U
1 04 7
(de que divinos poetas?), como as que andavam lá fora,
Cantara ao longe Francisco,
pelas ruas e vielas,
jogral de Deus deslumbrado.
— diáfanas, à lua,
Quem se mirara em seus olhos,
— graves, nas pedras...?
seguira atrás de seu passo! (Fim filho de mercadores pode ser mais que um fidalgo,
( io iiv iie
se Deus o espera com seu comovido abraço...)
Comp Ie / a
Fechai os olhos, donzelas,
Ah! que celeste destino,
sobre a estranha serenata!
ser pobre e andar a seu lado!
Não é por vós que suspira,
Só de perfeita alegria
enamorada...
levar repleto o regaço!
Fala com Dona Pobreza,
Beijar leprosos,
o homem que na noite passa.
sem se sentir enojado!
P e q u e n o O r a t ó r i o de S a n t a C l a r a
Converter homens e bichos!
F u ji«!
Falar com os anjos do espaço!... (Alt! quem fora a sombra, ao menos,
Escutai, nobres fidalgos:
desse jogral deslumbrado!)
a menina que criastes é uma vaga sombra, fora de vossa vontade,
í 'Iara
livre de enganos e traves.
048
Voz luminosa da noite,
E urna estrela que procura
feliz de quem te entendia!
outra vez a Eternidade!
(Num palácio mui guardado,
Despida de suas jóias
levantou-se uma menina:
e de seus faustosos trajes,
já não pode ser quem era,
inclina a cabeça
tão bem guarnida,
com terna humildade.
com seus vestidos bordados,
Cortam-lhe as tranças:
de veludo e musselina;
ramo de luz nos altares.
já não quer saber de noivos:
Mais clara do que seu nome,
outra é a sua vida.
no fogo da Caridade
Fecha as portas, desce a treva,
queima o que fora e tivera:
que com seu-nome ilumina.
— ultrapassa a que criastes!
1049 ,
Que são lágrimas? Pelo silêncio caminha...) Um vasto campo deserto,
I V r s e ír u ic■»íu ) O
a larga estrada divina! Ah! feliz itinerário!
Já partiram cavaleiros
Sobrenatural partida!
no encalço da fugitiva. — Não rireis, ó mercadores, não rireis da fidalguia! Iremos buscá-la à força, morta ou viva!
•s i a
C o mp ! e f a
P e q u e n o O r a t ó r i o de S a n t a C l a r a
(Dão de esporas aos cavalos,
a seus votos a arrancara.
entre injúria e zombaria.
Aos pés de Cristo caía:
Passam o portal da igreja,
não desejava mais nada.)
com ollios acesos de ira.
Olhavam-se os mercadores,
— Não leveis a mão à espada!
com grande espanto na cara.
Grande pecado seria!) E vem a monja.
Vida
Só de renúncias vestida! Ah! Clara, se não falasses, quem te reconheceria?
Do pano mais velho usava.
Para onde vais tão sem nada,
Do pão mais velho comia.
nessa alegria?
Num leito de vides secas, e de cilícios vestida, em travesseiro de pedra,
> |< 1 0 5 0
Volta
1051
seu curto sono dormia. Cada vez mais pobre
Voltaram os cavaleiros,
tinba de ser sua vida,
com grande espanto na cara.
entre orações e trabalhos
Palácios tristes...
e milagres que fazia,
Inútil espada...
a salvar a humanidade
Que grandes paixões ocultas
dolorida.
nas altas muralhas!
Mãos no altar, a acender luzes,
Pasmado, o povo contempla
pés na pedra fria.
aquela chegada...
Humilde, entre as companheiras;
(Longe ficara a menina
diante do mal, destemida,
que servir a Deus sonhara,
Irmã Clara, em seu mosteiro,
de glórias vãs esquecida,
tênue vivia.
da família separada. Força nenhuma
P o , ■xiu C o m i ) l e i a
Pequeno
O r a t ó r i o de b an t a C l a r a
e foi com tanta alegria servir a Deus nos altares, Um dia, veio o Anticristo, com seus cavalos acesos. Flechas agudas, na aljava de cada arqueiro. Vêm matar e arrasar tudo, com duros engenhos. "Irmã Clara, vede, há escadas sobre os muros do mosteiro! Soldados de ferro! Negros sarracenos!”
e, entre luz e ladainha, rogar pelos pecadores em agonia. Já passaram quarenta anos: e hoje a morte se avizinha. (Tão doente, o corpo! A alma, tão festiva! Os grandes olhos abertos uma lágrima sustinham: não se perdesse no mundo o seu sonho de menina!)
(Tomou da Hóstia consagrada, rosto de Deus verdadeiro, 1 0S 3
— levantou-a no alto
\ i >Z
do parapeito...) E, na cidade assaltada,
E a noite inteira, baixinho,
não se viu mais um guerreiro:
murmurara:
ou fugiram a cavalo
“ Levas bom guia contigo,
ou caíram dfe joelhos.
não te arreceies de nada: guarda-te o Senhor nos braços, — e em Seus braços estás salva!
!'im
Bendito e louvado seja Deus, por quem foste criada!...”
Já quarenta anos passaram:
E neste falar morria
é uma velhinha, a menina
Irmã Clara,
que, por amor à pobreza,
tão feliz de ter vivido,
se despojou do que tinha,
tão de amor transfigurada,
fez-se monja.
que era a morte no seu rosto como a estrela-d alva.
Pequeno
O r a t ó r i o de S a n t a
Clara
(“ Com quem falais tão baixinho,
G ló ria
Bem-aventura da ? ” “ Com minha alma estou falando...” )
Já seus olhos se fecharam.
Ah! com sua alma falava...
E agora rezam-lhe ofícios. (Tecem-lhe os anjos grinaldas, no divino Paraíso.
1 .11/
“ Pomba argêntea!” — cantam. “ Estrela claríssima!” )
v
1054
Por um santo que encontrara,
— Irmã Clara, humilde foste,
há tanto tempo,
muito além do que é preciso!...
alegremente deixara
— O caminho me ensinaste:
o mundo, de estranho enredo,
o que íiz foi vir contigo...
para viver pobrezinha,
(Assim conversam, gloriosos,
no maior contentamento,
Santa Clara e São Francisco.
longe de maldades,
Cantam os anjos alegres:
livre de rancor e medo,
vede o seu sorriso!)
a vencer pecados,
Que assim partem deste mundo
a servir enfermos...
os santos, com seus serviços.
Já está morta. E é tão ditosa
Entre os humanos tormentos,
corno quem sai de mu degredo.
são exemplo e aviso,
O Papa Inocêncio IV
pois estamos tão cercados
põe-lhe o seu anel no dedo.
de ciladas e inimigos!
Cardeais, abades, bispos
“ Santa! Santa! Santa Clara!”
fazem o mesmo.
os anjos cantam.
1055
(Mais que as grandes jóias, brilha seu nome, no tempo!)
( o m />/e i a
[E aqui com Deus finalizo.)
Pequeno Oratóri
d e S a n t a Ci a
C EC ÍLIA M EIR ELES
PISTOIA CEM ITÉRIO M ILITAR BRASILEIRO
PhilobiMion
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro ( 1955)
Pistóia, cemitério militar brasileiro. Rio cie Jan eiro , P h ilo b ib lio n , 1955. Tiragem de 100 exemplares. Xilogravuras de Manuel Segalá.
Na página anterior. capa da primeira edição de Pistóia, cemitério militar brasileiro.
Ele-> vieram felizes coriiii
Chamam por seus nomes, escritos
para grandes jogos atléticos:
nas placas destas cruzes brancas.
com um largo sorriso no rosto,
Mas, com seus ouvidos quebrados,
com forte esperança no peito
com seus lábios gastos de morte,
— porque eram jovens e eram belos.
que hão de responder estas crianças?
Marte, porém, soprava fogo
E as mães esperam que ainda acordem,
por estes campos e estes ares.
conto foram, fortes e belos,
E agora estão na calma terra,
depois deste rude exercício,
sob estas cruzes e estas flores,
desta metralha e deste sangue,
cercados por montanhas suaves.
destes falsos jogos atléticos.
São corno um grupo de meninos
Entretanto, céu, terra, flores,
num dormitório sossegado,
é tudo horizontal silêncio.
com lençóis de nuvens imensas,
O que foi chaga, é seiva e aroma,
e um longo sono sem suspiros,
— do que foi sonho, não se sabe —
de profundíssimo cansaço.
e a dor anda longe, no vento...
Suas armas foram partidas ao mesmo tempo que seu corpo. E, se acaso sua alma existe, com melancolia recorda o entusiasmo de cada morto.
Este cemitério tão puro é um dormitório de meninos: e as mães de muito longe chamam, entre as mil cortinas do tempo, cheias de lágrimas, seus filhos.
C A N Ç Õ E S PO R CECÍLIA
M EIRELES
19S6 bintos DE PORTVUAL RIO DE JANEIRO
Canções ( 1956)
Canções. Rio de Janeiro, Ijvros de Portugal, 1956, 112p. Desenho de Cecília Meireles.
Na pagina anterior. capa da primeira edição de Canções.
1067
Cançõcs
8 uno
s passivo-, a (