Metodologia Cientifica e Decolonialidade [PDF]

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Zitiervorschau

Marcos dos Reis Batista (Marcos Eduardo Dimitri Reis) Rafael Lemes de Aquino

Organizadores

Práticas de ensino e

apropriação

de metodologia científica

Mentes Abertas

EDITORA MENTES ABERTAS

COMITE

OBRA CIENTÍFICO DA

Mendes Catani

(USP,Brasil)

Prof. Dr. Afrånio Navarrete Tolomei (UFMA, Brasil Profa. Dra. Cristiane de Souza (UEPB, Brasil) Prof. Dr. Fábio Marques

Prof. Dr. Helder Neves de Albuquerque (PPGRN - UFCG, Brasil) Miranda Poza

(UFPE, Brasil)

Prof. Dr. José Alberto Pozzo (IRICE-Conicet-UNR, Argentinal Profa. Dra. María Isabel Mohamad Hawi

(USP, Brasil)

Profa. Dra. Mona Neto (UFRPE, Brasil) Prof. Dr. Nefatalin Gonçalves

Copyright

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida ou arquivada, desde que levados em conta os di. reitos dos autores.

Marcos dos Reis Batista (Marcos Eduardo Dimitri Reis); Rafael Lemes

de Aquino (Organizadores) Práticas de ensino e apropriação de metodologia cientifica. São Paulo, Mentes Abertas, 2020. 244 p. ISBN: 978-65-87069-09-8

Capa: Alexandre Borges Mesquita. Projeto gráfico e diagramação: Ronyere Ferreira.

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em: https://prezi.com/pt/.

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latino-americano, principalmente entre as Ciências Humanas, têm passado por um considerável tensionamento. A causa da tensão é a perspectiva decolonial elaborada pelo Grupo Modernidadel Colonialidade' que pôs em xeque a geopolitica do conhecimento e a colonialidade do poder em andamento no sistenma-mundo ca-

pitalista. As criticas produzidas pelos decoloniais são contundentes porque, entre outras coisas, evidenciam o envolvimento das ciências no processo de dominação/colonização

que foi responsável

'Sociólogo discente de mestrado no Programa de Pós-graduação Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil. em

E-mail: [email protected]

O Grupo Modernidade/Colonialidade é um coletivo interdisciplinar formado em 1999 a partir de um convênio entre pesquisadores da Universidade

Javeriana de Bogotá (Colômbia), Universidade de Duke (EUA), Universidade do Norte da Carolina (EUA) e Universidade Andina Simón Bolívar (Equa-

dor) com o objetivo de organizar atividades e publicações sobre o tema da geopolítica do conhecimento e da colonialidade do poder. Para saber os detaIhes de sua formação, ler o prólogo do livro El giro decolonial (CASTRO-GÓMEZe GROSFOGUEL, 2007).

no decorrer da história. por inúmeros genocídios/epistemicídios durante a "conquista" Para citar alguns: o de muçulmanos e judeus o de povos das Améri (invasão e ocupação) da Península Ibérica;

história da humanidade e tão antiga quanto nossa capacidade de registro histórico. Porém, há uma grande dife-

ção é muito comum

na

rença entre o colonialismo europeu moderno, realizado a partir do

e

colonização (séc. XV-XIX) o genocidio/ neocolonização (séc. XIX). E, também, no presente, minoritárias nos paíepistemicidio das mais diversas populações

século XV,eo colonialismo impérios da Diferente destes que dominavam diversos povos apenas exigindo o pagamento de tributos, o colonialismo moderno também consis-

colonizados (DUSSEL, 1993; CASTRO-GÓMEZ, 2005;

de toda a organização social e cultural dos povos subalternizados, o que deixou marcas profundas tanto na cultura e

cas,

Africa, Ásia

ses outrora

e

Oceania durante

a

GROSFOGUEL, 2016). Em todos

esses casos, mesmo

hoje também

servindo

como

dos pilares da co-

dos grandes

tiu

na

Antiguidade.

alteração

sociedade das ex-colônias, quanto na geopolítica entre ex-colônias

reduto de resistência, a ciência foi e tem sido um lonialidade ea saída para esse círculo de genocídios/epistemicídios engendrados por um fazer científico colonizado passa pela buscar

ponto central da perspectiva decolonial é a percepção da permanência de estruturas sociais, políiticase culturais

de alternativas morais e procedimentais para a atividade científica

erigidas no período colonial, e, na adoção de posturas engajadas

e seu ensino. Dentre as alternativas oferecidas pelas correntes teóricas de resistência ao sistema-mundo capitalista, volto-me à críti-

e

ca decolonial com o objetivo de extrair dos próprios conceitos de

ferias, assim como a hierarquização étnico-racial das populações

decolonialidade e ciência algumas diretrizes gerais para o método

não se modificou substancial e significativamente com o fim do

cientifico e seu estudo/ensino - a Metodologia Científica?.

colonialismo, as antigas hierarquias e o modo como elas operam apenas assumiram outros formatos havendo, na verdade, não o fim

Para tanto, apresento os conceitos de colonialismo, colonia-

e ex-metrópolis (BONNICI, 2005). De certo,

o

comprometidas com a

luta pelo fim de tais estruturas. A preensão é a seguinte: a divisão internacional entre centros e peri-

com

Em seguida falo de algumas alternativas decoloniais de ciência e

do colonialismo e o início de uma era pós-colonial, mas sim apenas uma transição do colonialismo moderno para o colonialismo

metodologia cientifica com a intenção de demonstrar a proposta

global (CASTRO-GÓMEZ e GROSGOGUEL, 2007). O conjunto

que julgo mais coerente. E, feito este percurso, aponto as implicações do conceito de decolonialidade à disciplina Metodologia

dessas estruturas

lidade, decolonialidade e ciência a fim de elucidar suas conexões.

Científica. 2

Colonialismo, colonialidade, decolonialidadee ciência

moderna

colonialismo é definido como a dominação política, mili e/ou cultural de uma nação/povo ou sobre outro com fins país O

tar

de

obtenção de vantagens materiais.

Sigo as definiçöes de Becker (1999). 114

Essa

relação de subalterniza-

e o seu

modo de

operação

é chamado de

colo

nialidade. A colonialidade, por sua vez, está dividida em pelo menos três matrizes: a colonialidade do poder, a colonialidade do saber e

poder consiste em um padrão mundial de poder capitalista baseado na imposição de uma a

colonialidade do

ser.

A colonialidade do

classificação étnico-racial das populações do mundo, esse é o eleno mundo mento constitutivo da divisão de classes e da exploração capitalista (QUIJANO, 2007). diz respeito aos Por outro lado, a colonialidade do saber do saber em função do paradigmas de pensamento e organização moderno colonial

115

colonialismo. As

características

fundamentais desses paradigmas

com as hierarquias e a hierarquização do conhecimento de acordo modo que o padrão é o euSOCiais (étnico-raciais) estabelecidas de

rocentrismo,

a

negação

e

destruição de paradigmas dos

de pensamen-

subalternizados

povos organização dos saberes próprios esse processo (LANDER, (epistemicidio) e a violência que permite

to e

Logo, como atividade de conhecimento baseada na razão e

alicerçada

em evidèncias empíricas, a ciência se estrutura a partir de necessidades da natureza dos fenômenos e da capacidade sensível e racional dos seres humanos (KANT, 1987). Porém, o uso da ciência, bem como o seu ensino não são definidos pela natureza mesma da ciência, mas sim por fatores éticos corolários. Uma lei-

tura

2005).

proficua definiço 130, tradução minha): "a colonialidade do

Por conseguinte, segundo do-Torres

(2007,

p.

de Maldona-

a

ser

rápida da resposta de Kant (2012) à pergunta 'o que é esclare-

cimento? é suficiente para perceber que a dimensão ética do pro-

jeto iluminista de ciência foi

completamente ignorada pelo Capital

se refere, então, à experiência vivida da colonização e seu impacto

que fez um uso instrumental e escuso da ciência no colonialismo.

linguagem'. E que a colonização engendra nos individuos um modo de ser e de experienciar o mundo voltado à manutenção da

Com efeito, o que define o fazer cientifico como colonial ou decolonial não é a epistemologia empregada ou a lógica e a me-

ordem estabelecida. Dito o que écolonialidade, é fácil dizer o que a decolonialidade é: uma utopia' caracterizada pela negação e pro-

tafisica' que substanciam as reflexões epistemológicas, mas sim o caráter ético-politico dos cientistas e do uso dos conhecimentos

posta de superação das estruturas e modus operandi do colonialismo que ainda permanecem na contemporaneidade. Vale citar que a ciência moderna foi concebida em meio à

agnóstico ou religioso; branco, indigena ou negro; homem cis, LGBTQI+ ou mulher cis, etc. o que importa é a consciência da

na

produzidos. Não importa se um cientista é cético ou xamä; ateu,

expansão colonial europeia e nessa afirmação estão corretos Dussel (1993), Castro-Gómez (2005) e Grosfoguel (2016). A revolução

colonialidade e o compromiss0 ou com a colonialidade, ou com a

cientifica que se iniciou no século XV com Copérnico, passou pelos séculos XVI e XVII com o idealismo de Descartes e Spinoza, o

colonial ou decolonial.

empirismo de Bacon, Locke e Hume, culminando na síntese entre essas duas correntes teóricas, em Kant, no séc. XVIII. 'Tudo isso

3 Alternativas decoloniais de ciência e metodologia cientifica

ocorreu

pari passu com a colonização das Américas, mas, ao julgar

que o problema do uso da ciència pelo colonialismo é algo da essência da ciência e não de seu uso (problema ético), esses autores

decoloniais incorrem

em

equívoco.

Falo em utopia no sentido desenvolvido por Karl Mannheim (1972), Para csse auto, a ideologia é uma ideia que nao condiz com o real, pois é a inversio da realidade a fim de mascarar, no âmbito das ideias, a violêncla c exploraçao reais. Em contra partida, a utopia também näo busca ser uma represenlaçio do real, mas sim uma proposta de superaçâo da violência e cxploraçâo que se apresentam no mundo real. A utopia reconhece o reale o nega näo por neio do mascaramento, mas da propsta de superaçáo. , a utopla que serve com cmbasamento nas lutas dos grupos ninoritários. 116

decolonialidade. E esse compromisso que faz da ciência um bem

Entre os decoloniais há pelo menos duas propostas de ciência e metodologia cientifica. Uma mantém os principiox filosóficos do fazer cientifico e lhe restitui a dimensao ética eliminada pelo

Capital

e a

outra

rejeita

as

necessidlades

lógicas

e

nnetalísicus

em

infni

uma possibilidade que a ciência moderna foi erigida c abre dos distintos cosmovisoes às la de princlpios que dizem vespeito assunem o papel de cientista. Nesse povos c grupos sociais quc

desde Aristó "Metalisica, neste texto, possui o signilicado que o termo tem, dos e causas primciros prineipivs leles, cm l'ilosolia: a clêncla das primeiras e Kant (1987) dlemonstrou que ess48 prinneirAs Cauaa priuciros prieipios razio e da sensibilidade i os elenentos a priori da

17

utimo caso, a ciência não pode ser conceituada, dela podemos ter apenas uma noção. A ciência se torna uma atividade de "conheci

mentos de arranjos infinitos. A primeira pode ser verificada nos trabalhos de Aníbal Qui-

jano, herdeiro

do

peculiar um sociólogo que seguiu à

marxismo de risca

o

Mariátegui'. Quijano

método científico

comum

foi

å So-

dade

rejeitando a hierarquizaçãão do conhecimento de acordo com

hierarquias sociais (étnico-raciais) e o eurocentrismo. O ideal científico de Quijano se assemelha muito ao de Frantz Fanon. Para Fanon (2008), as conquistas da ciência não são conquistas dos brancos / conquistas dos colonizadores/ conquis-

as

tas

dos opressores, mas conquistas da humanidade. A ciência não bem particular, é um bem humano construído

ciologia, fundamentação materialista histórica e dialética. Mas, diferente de boa parte dos marxistas do séc. XX, Quijano não cultivava concepções e valores positivistas. Ampliando o caminho

é

aberto por Mariátegui, o sociólogo peruano enriqueceu o materia-

sequências humanas que lhe seguem. Exatamente por ser um bem humano, a ciência pode e deve ser utilizada na construção de outro mundo possível onde a boa vida humana seja real e a colonização

em sua

lismo histórico e dialético com categorias fundamentais que vão além da luta de classes (SEGATO, 2013). Ao analisar os processos de colonização desde América Latina e a configuração da geopolítica atual, Quijano percebeu que o padrão de poder e exploração sempre estiveram imbricados a dife

renças étnico-raciais, de modo que tentar explicaro surgimento e desenvolvimento do sistema-mundo capitalista moderno desconsiderando a racialização que lhe é própria é uma tarefa fracassada.

Ainda que Quijano não tenha rompido epistemicamente ideia de ciência social, seu rompimento foi com o ideal tivista que ainda se abatia sobre muitos marxistas. Ele seguia o método materialista histórico e dialético; reconhecia as necessidades

posi

com a

metafísicas sem as quais o conhecimento científico não é possível; restaurou na ciência a dimensão ética eliminada pelo Capital e asSumiu uma postura engajada e comprometida com a decolonialiFalo de "conhecimento porque, em Filosofia, existe uma distinção precisa entre conhecimento (um saber lógico, de conteúdo verdadeiro e fundamentado em demonstrações lógicas elou ou um saber de experiência vivida.

empíricas)

e uma

simples noção/opinião

José Carlos Mariátegui foi um dos mais influentes e originais intelectuais marxistas latino-americanos do séc. XX. Seus trabalhos valorizam o pensa-

mento dos povos tradicionais do Peru, o resultado é uma teoria socialista voltada para a realidade local concreta. De nacionalidade nasceu em peruana, 1894 e faleceu precocemente em 1930.

118

um

coletivamente

que, assim como muitos outros, o juízo de valor "bom" ou "ruim que Ihe cabe depende do contexto e, sobretudo, do uso e das con-

e

apenas um passado ruim.

alternativa decolonial de ciência e metodologia científica sustentada principalmente por Grosfoguel, CasPor

sua vez, a

tro-Gómez e Dussel é não apenas eclética, mas radical. As raízes de sua epistemologia estão no pós-estruturalismo, o movimento de desconstrução encabeçado por Derrida e o Pós-Modernismo. Toma corpo

nessas

raizes

a

indignação de povos tradicionais, gru-

pos religiosos e populações minoritárias que desejam que seus saberes sejam reconhecidos como possuidores do mesmo status do

conhecimento científico. Esse desejo foi alimentado por anos de violência sofrida por essas populações. Ao violentá-las, os colonizadores tinham como instrumento a ciência, por esse motivo a

experiência que esses povos têm com a ciência foi sempre marcada pela colonialidade. Tal proposta de ciência e metodologia cientifica é problemática porque, para permitir que existam várias maneiras de fazer ciência

(uma

ciência

indigena,

uma

ciencia negra,

etc.),

toma-se

pressuposto a ausência de principios necessários e transcen dentais para o fazer científico. Esses autores caem em um sociologismo, é como se toda teoria científica, social, histórica, filosófica,

como

econômica ou crítica se baseasse exclusivamente na experiência só119

cio-histórica e

na

de homens das potêéncias eurovisão de mundo Alemanha, Itália) e os Estados

peias ocidentais (Inglaterra, França, tudo é Unidos. O argumento é que

e

relações

de

poder,

uma

sendo assim, é

questão de contexto

possível

social

direção do

inverter a

produzir ciências baseadas processo e, contra-hegemonicamente, mundo dos povos susócio-histórica e na visão de na

experiência

GROSFOGUEL, 2016), balternizados (CASTRO-GÓMEZ, 2005; Outro mou

problema

nessa

de irracionalismo, pois,

proposta ao

éo

rejeitar a

que Lukács (1959) chametafisica, a lógica e a "ocidentais" e "colonj-

epistemologia filosófica considerando-as zadoras, as produções decoloniais ditas "cientificas" que seguem

modelo desprezam o entendimento e a razão, caracterizando-se pela arbitrariedade, afirmações contraditórias, precariedade dos fundamentos, argumentações falaciosas, baixo nível filosófico, esse

glorificação da intuição, mitomania, e listas. Em

suma, o

outros caracteres

conceito de ciência é incompativel

irraciona-

com essa

úl

tima proposta que dá origem a quase tudo, menos à ciéncia.

4 Descolonizando a disciplina de Metodologia Cientifica A maneira como concebemos a Metodologia Cientifica está intimamente marcada pelo contexto social e politico em que este campo do conhecimento foi construído, qual seja, o sistema-mun-

doeuro-norteamericanocapitalista/racista/ patriarcal / moderno colonial. E, a depender da situação ou do lugar, a colonialidade da

metodologia cientiífica torna-se mais ou menos evidente. E claro que ao reconhecer isso não recomendo o fim da Metodologia

Cientifica, porém, acredito ser mais alternativas decoloniais que, sem

do que

urgente

a

busca por

romper com os principios que mantém a ciência em pé, possam livrar nossas reflexões e ensino do método científico da carga de racismo, sexismo, classismo e ou-

violências que historicamente foram a denunciam os teóricos decoloniais. tras

120

ele

atreladas, como bem

De modo

geral, os estudos de Metodologia Científica se concentram entorno de questões específicas do uso e desenvolvimento de métodos,

e

daí

a

existência de

conselhos e associações de

ca em

seções de

Metodologia Cientifipesquisadores profissionais, por

exemplo, ou, entorno do ensino de métodos básicos e avançados de pesquisa científica, daí a existência de departamentos de Meto-

dologia Cientifica e/ou das disciplinas Metodologia Científica em cursos

de

graduação e pós-graduação nas universidades. Contudo

aqui quero pensar em alguns princípios decoloniais que sirvam tanto

para quem

pesquisa quanto

todologia Cientifica. Fanon

para quem

ensina/aprende Me

(2005)

lembra que na descolonizaço há a necessidade integral e contínua de questionamento da situaço colonial. Na verdade, o sucesso da barbárie colonial depende da ausência de reflexão contínua sobre a situaço vivida. Logo, o primeiro princípio da descolonização da Metodologia Científica é a reflexão contínua do metodólogo acerca da relação direta e indireta entre sua atividade e a realidade social em que está inserido. Isso resultará na tomada de uma postura consciente em relação à colonialidade do poder em sua atividade de metodólogo

pesquisador/docente

discente. O exercicio da consciência é condição indispensável da retomada da dimensão ética do fazer científico que torna

o

meto

dólogo um homem totale não uma coisa colonizada que age como mero

operador do método a despeito de quaisquer consequências. Outro princípio é o comprometimento e engajamento ético-

-político com a decolonialidade, pois permite o combate tanto da colonialidade do ser quanto da colonialidade do saber. O metodólogo engajado busca maneiras de fazer ciência que estabeleçam laços humanos entre os sujeitos, laços que gerem respeito e horizontalidade em detrimento da violência e das hierarquias presentes

processos de ensino-aprendizagem via colonialidade do saber. Além disso, as hierarquizações da colonialidade se consolidam em uma barreira que impede tanto o reconhecimento e 121

respeito

pelo outro como pessoa

humana,

conhecimentos. Castro-Gómez e

como também

Grosfoguel (2007, eu

por seus

21), tradudigo a ciência p.

-e ção minha) observam que "a ciência social forma de incorporar o conheem geral- "ainda não encontrou a de conhecimento. cimento subalterno aos processos de produção

Sem isto não nem

utopia

pode haver decolonização alguma

do

conhecimento

social mais além do ocidentalismo'.

Em contrapartida, o metodólogo engajado coma descoloni

zação busca soluções para esse problema

e

valoriza

quétipo

do colonizador que reafirma

classistas

e

eurocêntricos de

nialidade do uso

do

ser.

O

nossa

importante

os

padrões racistas, sexistas, é a própria colo-

sociedade

no ser

-

cientista é a

método, a criatividade firmada

rigorosidade no

princípios cientificos e conciliação de tudo isso com uma existência humana total e, por isso, ética, que só é possível via descolonização. nos

a

Considerações finais

procedimentos

de pesquisa que, respeitando o limite da verdade, criem diálogos entre o conhecimento cientifico e os saberes dos sujeitos pesquisa-

Em suma, existe tanto a ciência quando

um

modo correto de

se

fazer ciència,

e,

dos ou que moram nos espaços geográficos onde as pesquisas são

Metodologia Cientifica não apresentam problemas originados na essência da própria ciência, mas sim na

realizadas. E devo dizer que diferente do que supõem os preconcei-

organizaçâão em função da colonização a que por muito tempo fo-

a

metem os resultados da pesquisa ao aproximar sujeito e objeto. O

vêm sendo sujeitadas. E isso que caracteriza a colonialidade da ciência e da Metodologia Científica. Para descolonizá-las não é

distanciamento entre ambos deve e não no campo da ética.

operado no campo da lógica

necessário assumir uma postura irracionalista em que tudo passa a ser considerado ciência, é preciso apenas resgatar/ restituir a di-

Por fim, saliento o caráter que Becker (1999) chama de "proselitizante" na Metodologia Cientifica. E bem verdade que a disciplina é útil para explicar e aperfeiçoar a prática da pesquisa, elu-

mensão ética da ciência que foi eliminada pelo Capital e, nesta fei-

tos

positivistas, o comprometimento e engajamento não comproser

cidar que

tipo de método é mais útil, mas, não raramente, muitos metodólogos tolhem a criatividade na defesa de uma dita "maneira certa de fazer as coisas"; exigem que os pesquisadores, especialalunos, convertam-se a inflexível de algumas regras e mente

Uma

um

estilo de trabalho

e a

aplicação

ram e

ta, produzir uma ciência e uma Metodologia Cientifica engajadas e comprometidas com a decolonialidade.

Referências BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4. ed. São Paulo: Editora HUCITEC, 1999.

procedimentos que são dispensáveis.

postura decolonial elimina esse

proselitismo, pois valoriza o protagonismo dos pesquisadores em prejuízo do colonizado auto-

ritarismo acadêmico.

Ademais,

BERNARDINO-COSTA, Joaze; GROSFOGUEL, "Ramón. Decolonialidade e perspectiva negra'. Revista Sociedade e Estado, Brasí-

lia, v. 31, n.

1, p. 15-24, jan./abr. 2016.

minha experiència acadêmica percebo que os docentes metodólogos são os que mais cobram de seus alunos um modo de se vestir, de se portar e de falar que seja "universitário"

BONNICI, Thomas. "Avanços e ambiguidades do pós-colonialismo no limiar do século 21. Légua e Meia: revista de literatura e diversidade cultural, Feira de Santana, v. 4, n.3, p. 186-202, set.

tário / acadmico

out. 2005.

em

"acadêmico"/ "científico'". Não obstante, o arquétipo do universi/ cientista que substancia essas cobranças é o ar

122

123

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encobrimento do outro: a origem do DUSSEL, Enrique. 1492, o de Frankfurt. Petrópolis, RJ: mito da Modernidade, conferências

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